Hoje refletiremos sobre a Culpa, tema abordado pela querida irmã Marlete Siqueira, em palestra exibida nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade.

Culpa e consciência

Culpa é a consciência de um erro cometido através de um ato que provocou algum prejuízo (material ou moral), a si mesmo ou a outrem.

Essa consciência do erro nos traz sofrimento. Tal sentimento pode ser vivenciado de forma saudável ou de forma patológica.

A culpa saudável é aquela que nos leva ao arrependimento sincero e que, embora revestida de dor, impulsiona o ser à reparação e deve vir acompanhada de um sentimento de responsabilidade.

Segundo o livro O Céu e o Inferno:

O arrependimento é o primeiro passo para o melhoramento. Mas ele apenas não basta, sendo necessárias ainda a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências.
— O Céu e o Inferno, capítulo 7, “As penas futuras segundo o Espiritismo”, 16º item.

A culpa aparece quando tomamos consciência de que agimos de forma prejudicial e está mais presente em nosso psiquismo do que poderíamos imaginar.

Em várias obras da série psicológica, Joanna de Ângelis aborda esse tema, como em: Amor, Imbatível amor; Despertar do espírito; Conflitos existenciais; Ser consciente; Vitória sobre a depressão; entre outros.

No livro Vitória sobre a Depressão, Joanna nos alerta: 

Todos os seres humanos, de uma ou de outra forma, carregam algumas culpas, inclusive aquelas que lhe foram impostas pelas tradições religiosas absurdas, que se comprazem em condenar em vez de orientar a maneira eficiente para a libertação dos equívocos em que se tombavam. 

[…] A aceitação honesta do fenômeno culpa pela consciência constitui excelente aquisição emocional para a diluição dos fatores que a geraram.
— Vitória sobre a depressão, página 88.

Culpa e pecado

No passado, não soubemos compreender devidamente a ligação culpa-pecado. Para manter o poder sobre as pessoas, igrejas enfatizavam essa relação, gerando em muitas pessoas o sentimento de culpa.

Com a doutrina espírita, hoje podemos refletir adequadamente sobre isso. Já sabemos que estamos progredindo, aprendendo em muitas encarnações até chegarmos ao nível de espíritos evoluídos.

É tão relevante esse sentimento de culpa, que Jesus trouxe esse ensinamento: “atire a primeira pedra quem estiver sem culpa”. O Mestre já nos alertava, então, quanto à presença desse sentimento em nós.

Culpa e obsessão

No livro Pensamento e Vida, Emmanuel aborda um capítulo sobre a culpa:

Quando fugimos ao dever, nos precipitamos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.

Temos então, os mais variados sintomas do remorso, quando o cultivamos.

Com estes sentimentos de culpa, nos tornamos mais vulneráveis à influência espiritual negativa, aos processos obsessivos, porque sabemos que não é o mal que vem de fora que nos prejudica, mas sim, o mal que há em nós. 

Esses espíritos que se associam a nós na nossa invigilância, não fazem mais do que estimular os desequilíbrios que trazemos em nós. Quando estamos envolvidos na culpa fica mais fácil, então, ampliar esses desequilíbrios.

Causas da culpa

Vejamos então quais seriam as causas do sentimento de culpa. Joanna de Ângelis, no livro Conflitos Existenciais, esclarece: 

Duas são as causas psicológicas da culpa: a que procede da sombra escura do passado, da consciência que se sente responsável por males que haja praticado em relação a outrem, e a que tem sua origem na infância, como decorrência da educação que é ministrada.
Conflitos Existenciais, capítulo 6, “A psicologia da culpa”.

Preexistente à vida física

Vejamos o primeiro caso: quando alguém sente culpa, é porque está insatisfeito consigo mesmo. Quando se comete o erro, naquele momento não é possível a análise do feito. Porém, com o passar do tempo, o remorso leva à identificação desse erro, mas muitas vezes sem a coragem para a reparação.

Dessa forma, acaba transferindo o conflito para os arquivos do Espírito em forma de culpa. Essa se transfere do inconsciente para o consciente diante de qualquer situação que vivenciamos e desperta a memória de fatos passados.

Isso traz a angústia que se transforma em autopunição, como um mecanismo liberador da culpa, levando a um comportamento de conflito psicológico.

Formação educacional da criança

Na segunda causa citada, vemos a culpa em decorrência da má educação, que ocorre quando se impede a criança de desenvolver a própria identidade, favorecendo a instalação da culpa.

Ainda no livro Conflitos Existenciais, temos a seguinte contribuição de Joanna: 

Normalmente exige-se que o educando seja parcial e adulador, concordando com as idéias dos adultos – pais e educadores – que estabelecem os parâmetros da sua conduta, sem terem em vista a sua espontaneidade, a sua liberdade de pensamento, a sua visão da existência humana em desenvolvimento e formação.
Conflitos Existenciais, capítulo 6, “A psicologia da culpa”.

Nós adultos, estabelecemos um padrão para as crianças e queremos que elas se adaptem a esse padrão, sem levar em conta as características da própria criança.

Muitas vezes, as crianças nem podem demonstrar seus próprios erros, suas dificuldades do passado, para que, sendo percebidos (as), possam ser motivo de análise e de conversação para serem resolvidos (as).

Muito perigoso apenas seguir o que alguém lhe impõe porque nunca se terá certeza de quem realmente se é. Sabemos que para progredir precisamos olhar para dentro, mas como ficará difícil esse “ver a si mesmo” se não há honestidade em ser o que realmente se é, com todos os defeitos.

Esse conflito acaba gerando um sentimento de culpa na criança que se esforça para ser o que alguém considera um modelo, mas não consegue. Cada ser tem sua identidade e deve ser respeitada. A realidade dos fatos é sempre melhor. 

A partir do momento que a pessoa se vê, com seu passado, seus erros, de forma honesta, pode lidar com isso e, gradativamente, com muito amor por si mesma, resolver suas dificuldades.

Além disso, é comum adultos que não conseguem resolver suas próprias fragilidades, e transferem seus problemas para as crianças. Nós todos temos a tendência de transferir nossas culpas, quando não conseguimos superar nossas dificuldades.

Libertação da culpa

Quais seriam, então, as consequências da culpa não liberada?

Reprimir a culpa, tentar ignorá-la é tão negativo quanto aceitá-la como ocorrência natural, sem o discernimento da gravidade das ações praticadas. 

A medida que é introjetada, porém, a culpa assenhoreia-se da emoção e torna-se punitiva, castradora e perversa.
Conflitos Existenciais, capítulo 6, “A psicologia da culpa”.

As consequências são perturbações emocionais, autocomiseração, autocompaixão, sintomas físicos, problemas com drogas e bebida, depressão, dificuldades de relacionamento, entre outros.

O antídoto para a culpa é o perdão. Esse perdão que poderá ser direcionado a si mesmo, a quem foi vítima, à comunidade, à natureza.

A coragem de pedir perdão e a capacidade de perdoar são dois mecanismos terapêuticos liberadores da culpa.

Equilíbrio interno

Segundo Joanna de Ângelis, no livro Encontro com a Paz e a Saúde, o Self é o espírito imortal que somos, representa o objetivo do homem inteiro, a realização da sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra a sua vontade. Já o ego é parte de nossa identidade (nome, família, trabalho, tudo que me diz respeito), é tudo que se refere a mim, reflexo do inconsciente. O ego é o centro da consciência, mas o Self é o diretor geral.

Precisamos nos conscientizar de algo simples: erramos. Sim, erramos. O ego e o Self fazem parte do nosso psiquismo e necessitam andar em equilíbrio.

Há uma ânsia profunda no ser humano que é atingir a harmonia […]
Isso se tornará possível mediante o avanço, passo a passo, em que se vão superando os limites e aumentando a capacidade de compreensão do poderoso recurso da evolução.
Encontro com a Paz e a Saúde, capítulo 9, “A conquista da consciência”.

Quando erramos, devemos racionalizar o acontecido e analisar o fato com clareza e reconhecendo o que aconteceu como instrumento de mudança, como algo a ser transformado.

Cada vez que olhamos para nós mesmos e somos sinceros em relação aos nossos próprios erros, começamos um processo.

Quando perguntamos a nós mesmos o que podemos fazer para melhorar, já estamos melhorando e, enfatizando ainda, quando paramos de transferir a responsabilidade de nossos atos para outros, tiramos um grande fardo dos nossos ombros.

Tratando-se de culpa relativa às existências passadas, é o mesmo processo de mudança de atitude em relação à vida e aos relacionamentos. E não esqueçamos que é muito importante prestarmos atenção nas nossas reações, além das nossas ações.

Nada é mais eficiente para eliminar a culpa do que fazer o bem, para o próximo, para a comunidade, e, consequentemente, para nós. Tenhamos em nós mesmos, que vamos vencer os desafios e superar nossas tendências mais difíceis! Não nos deixemos levar pelo desânimo. Tende bom ânimo! Quando cairmos, levantemos!

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspiroou esta publicação:

Referências bibliográficas:

  • FRANCO, Divaldo Pereira. Conflitos existenciais. Pelo espírito Joanna de Ângelis. Cap. 6. Pgs. 73, 79 e 80.
  • FRANCO, Divaldo Pereira. Encontro com a paz e a saúde. Pelo espírito Joanna de Ângelis. Pgs. 93 e 119.
  • FRANCO, Divaldo Pereira. Vitória sobre a depressão. Pelo espírito Joanna de Ângelis. Pg. 88.
  • KARDEC, Allan. O céu e Inferno. Cap. VII. item 16.
  • XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. Pelo espírito Emmanuel. Cap. 22.

*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues. 

**Imagem em destaque: via Pexels.com

Categorias: Notícias

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