A mediunidade é condição natural da espécie humana e a comunicação entre o mundo material e espiritual é de todos os tempos. Os estudos do professor italiano de filosofia da ciência Ernesto Bozzano revelam as formas pré-históricas do fenômeno mediúnico e podem ser lidos na obra O Espírito e O Tempo, de J. Herculano Pires. Mas foi a partir de Allan Kardec que a relação entre desencarnados e encarnados foi investigada do ponto de vista científico, filosófico e religioso. 

Em palestra na Associação Espirita Fé e Caridade, o expositor Junior Cruz contou sobre como foi esse processo. Allan Kardec é o pseudônimo de Hippoliyte Léon Denizard Rivail, discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi, educador que tinha como linha de trabalho o positivismo, utilizando-se do ensino intuitivo, que buscava maior integração entre professor e aluno. 

Após a formação no Instituto Pestalozzi, Kardec se torna professor e escreve muitas obras voltadas à educação. Vive dificuldades profissionais por ter crenças diferenciadas das existentes na época. Mas, sempre amparado pela espiritualidade amiga, junto à sua esposa, continuou seu trabalho. O casal, muitas vezes, em sua própria residência ministrava aulas gratuitas às pessoas carentes.

Foi em 1854, que pela primeira vez, Allan Kardec ouviu falar de um fenômeno que ficou conhecido como mesas girantes. Encontrou um dia o magnetizador Senhor Fortier, que lhe falou da singular propriedade do magnetismo, em que não só as pessoas podiam se magnetizar, mas também as mesas. Em outro encontro, o amigo lhe disse que as mesas poderiam falar. Kardec responde que só acreditaria quando pudesse ver. 

No ano seguinte, começo de 1855, encontrou-se com o sr. Carlotti que lhe falou dos mesmos fenômenos. Passado algum tempo, pelo mês de maio de 1855, presenciou o fenômeno, inclusive escrita mediúnica. Logo depois, pode observar mais atentamente os fatos e ver comunicações contínuas. Começaram então os estudos sérios do espiritismo. 

Na época Kardec tinha 51 anos, e iria passar por uma transformação em sua atual encarnação — um novo mundo se descortinava. Nunca é tarde para trabalhar, começar ou recomeçar. Kardec continua estudando para poder compreender o que realmente estava acontecendo e o que envolvia justiça e fé. 

O método científico na descoberta do espiritismo

Através de perguntas e respostas, Kardec inicia a verificação da veracidade das respostas trazidas no fenômeno das mesas girantes. Constatou, que além de serem variadas, algumas comunicações eram endereçadas a ele próprio. Decidiu, então, pelas sugestões dos espíritos, adotar o pseudônimo de Allan Kardec para as obras que publicaria. Afinal, queria que as pessoas vissem a obra pela obra, que eram dos espíritos, não dele próprio.

Sabemos que há sempre um propósito nas obras do nosso Pai maior. E esse caminho trilhado por Allan Kardec faz parte dessa obra magnífica que é a evolução de todos os seres que habitam o Universo. A revelação espírita através dos primeiros passos, com as manifestações dos espíritos, demonstra que a vida é eterna e nos coloca na posição de protagonistas da nossa história e responsáveis pela mudança individual e coletiva. 

Desde o começo da vida no planeta, passando por Platão, Sócrates, Moisés, Jesus, nosso mestre e amigo que veio trazer a esperança e o amor incondicional, tudo nos leva ao mesmo ponto: os que viveram na Terra se encontram após a morte e se reconhecem e as relações entre os espíritos continuam. A morte não é nem uma interrupção, nem a cessação da vida, mas uma transformação (Evangelho Segundo o Espiritismo).

Então, diz-se que Moisés trouxe a primeira revelação, mensagem que andou por todo o mundo, trazendo palavras de renovação. Após a vinda de Moisés, veio Jesus, que nos passa a mensagem: “lhes darei o Consolador”. E esse consolador é a Doutrina Espírita. O livro terceiro contido em O Livro dos Espíritos trata das Leis Morais. A questão 614 nos fala da Lei Natural, que é a Lei de Deus, a única necessária à felicidade e que indica ao homem o que deve fazer ou não fazer. 

A evolução espiritual

Ou seja, Kardec nos repassou, através de suas obras o que representa seguir a Lei de Deus, o que necessitamos para, através da auto-renovação, transformarmos nosso ser ainda imperfeito. E, muito interessante e importante, na questão 621, Kardec pergunta aos espíritos: onde está escrita a lei de Deus? E a resposta simples é: na consciência. Vem então aí a nossa responsabilidade.

Desde que Jesus veio ao planeta e nos passou a lição de Amor, as leis de Deus já estavam dentro de nós!

Kardec, então, recebeu as mensagens dos espíritos e as repassou, e deixou a chave para que continuássemos o aprendizado. Jesus foi a porta que se abria para nós, quando aqui esteve. E, se naquela época ainda não tinha surtido o efeito desejado, estas lições perduram até hoje e permanecerão para que possamos progredir em nossa caminhada.

A missão de Allan Kardec

Em 30 de abril de 1856, em uma sessão espírita, Kardec recebe uma mensagem dizendo que ele era o obreiro que reconstrói o que foi demolido. Em uma época onde ainda existia escravidão, preconceitos arraigados e grandes dificuldades de compreensão do que era a igualdade social, ele estava iniciando um traballho de reedificação. E, ainda naquele ano, Kardec endereça uma pergunta ao Espírito de Verdade: quais eram os detalhes de sua missão? E a resposta foi que era “organizar e divulgar a nova doutrina, que seja capaz de revolucionar o pensamento científico, filosófico e religioso”. A missão de Kardec era nos auxiliar em nossa evolução.

Segundo A Gênese, Kardec propõe a tese da revelação contínua, permanente, lembrando que todas as ciências são processo de revelação dos segredos da Natureza. O espiritismo se insere nesse processo com uma contribuição valiosa, uma vez que o seu objeto não havia sido tratado por nenhuma outra ciência. Todas as ciências conhecidas até então se aplicam a pesquisas materiais. O problema espiritual ficara a cargo das religiões, que falharam nesse sentido investigativo, nada acrescentando ao conhecimento real. A ciência espírita veio suprir essa deficiência cultural, mostrando a possibilidade de investigação científica do plano espiritual. A posição científica de Kardec era irrefutável, mas isso não impediu que a constestassem. Ele respondeu: se há fenômenos espirituais, o Espírito é acessível à pesquisa científica.

Todo o trabalho de Kardec seguiu uma linha de raciocínio científico, visando à renovação cultural.

Vejamos as obras espíritas de Allan Kardec:

  • O QUE É O ESPIRITISMO? (livro introdutório ao estudo da Doutrina);
  • O LIVRO DOS ESPÍRITOS (pedra fundamental ou o marco inicial da nova codificação;
  • O LIVRO DOS MÉDIUNS (trata da parte experimental da Doutrina);
  • O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (leis morais);
  • O CÉU E O INFERNO (penas e gozos terrenos e futuros);
  • A GÊNESE (os milagres e as predições segundo o Espiritismo);
  • OBRAS PÓSTUMAS (testamento doutrinário de Allan Kardec com seus derradeiros escritos e anotações íntimas).

Antes de Kardec, embora não nos faltasse a crença em Jesus, vivíamos na Terra atribulados por flagelos da mente, quais os que expomos:

  • o combate recíproco e incessante entre os discípulos do Evangelho;
  • o cárcere das interpretações literais;
  • o espírito de seita;
  • a intransigência delituosa;
  • a obsessão sem remédio;
  • o anátema nas áreas da filosofia e da ciência;
  • o cativeiro aos rituais;
  • a dependência quase absoluta dos templos de pedra para as tarefas da edificação íntima;
  • a preocupação da hegemonia religiosa;
  • a tirania do medo, ante as sombrias perspectivas do além-túmulo;
  • o pavor da morte, por suposto fim da vida.

Depois de Kardec, porém, com a fé raciocinada nos ensinamentos de Jesus, o mundo encontra no Espiritismo Evangélico, benefícios incalculáveis, como sejam:

  • a libertação das consciências
  • a luz para o caminho espiritual
  • a dignificação do serviço ao próximo
  • o discernimento
  • o livre acesso ao estudo da lei de causa e efeito, com a reencarnação explicando as origens do sofrimento e as desigualdades sociais
  • o esclarecimento da mediunidade e a cura dos processos obsessivos
  • a certeza da vida após a morte
  • o intercâmbio com os entes queridos domiciliados no Além
  • a seara da esperança
  • o clima da verdadeira compreensão humana
  • o lar da fraternidade entre todas as criaturas;
  • a escola do Conhecimento Superior, desvendando as trilhas da evolução e a multiplicidade das “moradas” nos domínios do Universo.

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Referências:

– A GÊNESE. Notícia sobre o Livro. Pg. V.

– O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Resumo da doutrina de Sócrates e Platão. Ítem XI.

– O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Introdução – A Codificação Espírita Ítens 1º ao 7 º.

– O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Livro Terceiro. Capítulo I. Questões 614, 615, 616, 625.

– XAVIER, Chico. DOUTRINA DE LUZ. pág. 25. Por Emmanuel.

*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
**Imagem em destaque: Febnet.org.br

Categorias: Notícias

2 comentários

A imortalidade da alma · 17 de outubro de 2022 às 15:43

[…] no século XIX, Allan Kardec foi convidado para uma reunião das mesas girantes. Como era conhecedor de Sócrates e cientista, […]

Comunicação com os Espíritos · 2 de janeiro de 2023 às 16:13

[…] tempo depois, em Paris, 1855, o distinto professor Hippoliyte Léon Denizard Rivail tomou conhecimento de “fenômenos estranhos” que estavam ganhando fama a cidade. Em vez de […]

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