Em palestra exibida nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Paulo Allebrandt nos trouxe reflexões sobre A visita da Verdade. Esse é o título do capítulo 25, do livro Jesus no Lar, psicografado por Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Neio Lúcio.

A verdade

Certa vez, o Mestre Jesus disse “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). E essa declaração voltou a ser tema, mais tarde, no Evangelho no Lar, realizado na humilde casa de Simão Pedro:

(…) e, talvez porque lhe não pudesse apreender, de imediato, a vastíssima extensão da afirmativa, perguntou-lhe Pedro, no culto doméstico:
Senhor, que é a verdade?
Jesus fixou no rosto enigmática expressão e respondeu:
A Verdade total é a Luz Divina total; entretanto, o homem ainda está longe de suportar-lhe a sublime fulguração.
— Jesus no Lar, capítulo 25, “A visita da verdade”.

Uma pergunta singela mas ao mesmo tempo profunda. É um questionamento incomum, mas que pode levar uma série de elucidações importantes.

E nesse momento pensamos nas pessoas que se arvoram os donos da verdade, que não aceitam a possibilidade de estarem equivocadas. Será que esta pessoa detém de fato pleno conhecimento sobre algo?

O quão arrogante pode ser alguém de se portar como dono da verdade quando, de fato, sequer temos condições, de acordo com o texto, de suportar a sublime fulguração, ou seja, a intensa luminosidade, o intenso brilho que é a verdade.

Isso lembra também que, não raro no Livro dos Espíritos, Kardec começava a questionar os espíritos sobre determinado assunto e seguia perguntando, validando o entendimento. Ele fazia perguntas reiteradas e chegava em um ponto onde a espiritualidade alerta, que não tem condições de nós encarnados, compreendermos a partir dali. E o que significa isso? É brilho demais aos nossos olhos limitados.

Então vamos ficar na ignorância? Não. Nós precisamos apenas caminhar um pouco mais, para podermos entender.

A cegueira

Após a pergunta de Simão Pedro, Jesus reparou que o pescador continuava faminto de esclarecimentos novos. Assim, o Amigo Celeste meditou alguns minutos e falou:

— Numa caverna escura, onde a claridade nunca surgira, demorava-se certo devoto, implorando o socorro divino. Declarava-se o mais infeliz dos homens, não obstante, em sua cegueira, sentir-se o melhor de todos. Reclamava contra o ambiente fétido em que se achava. O ar empestado sufocava-o — dizia ele em gritos comoventes.
Pedia uma porta libertadora que o conduzisse ao convívio do dia claro. Afirmava-se robusto, apto, aproveitável. Por que motivo era conservado ali, naquele insulamento doloroso? Chorava e bradava, não ocultando aflições e exigências. Que razões o obrigavam a viver naquela atmosfera insuportável?
— Jesus no Lar, capítulo 25, “A visita da verdade”.

Jesus começou a contar uma história para tentar tornar mais simples o ensinamento que queria passar.

O Mestre queria ensinar que só a verdade tornaria livre o homem. Então recorre a história de um homem isolado em uma caverna. Este homem é apresentado como um devoto, que crê e recorre a Deus pra pedir ajuda e se vê como o mais infeliz dos homens, apesar de se sentir o melhor de todos. E é isso que Jesus chama de cegueira.

Essa cegueira é comum, que nos faz ignorar os problemas alheios, insuflando os nossos. Essa cegueira que nos faz ignorar as qualidades alheias, colocando as nossas maiores do que na verdade são. Essa cegueira que nos faz perder a perspectiva da realidade.

E aqui está o primeiro convite para a reflexão:

O que será que ignoramos sobre nós mesmos e sobre aqueles que nos cercam, que acaba nos atrapalhando na percepção da nossa realidade, acaba por impedir que tiremos proveito das oportunidades de atuação do bem?

O pedido

Depois de apresentar o homem da caverna, Jesus nos conta que ele pediu uma porta libertadora que o conduzisse ao convívio do dia claro. Veja que o homem está pedindo uma porta pronta, uma passagem fácil.

Ele se coloca na posição de merecedor de um atalho, de alguém que pede ajuda para encontrar e percorrer o caminho. Isso ainda é agravado porque se dizia robusto, aproveitável mas ele não fazia por onde. Em vez de buscar a saída da caverna, ficava apenas clamando e exigindo por esta ajuda. Parece esperar que algo externo lhe dê o impulso.

É como esperar para ganhar fortunas, esperar uma condição absurda surgir para então viabilizar alguma ação. Pode-se doar o pouco, doar o seu tempo. A mesma coisa do estudante que não se esforça para aprender e coloca a culpa no professor que não é bom o suficiente.

Não quer dizer que as condições externas não são importantes, elas são e podem viabilizar ou não determinadas coisas. Porém, se não nos esforçamos, se não fizermos a nossa parte, como vamos esperar que algo externo venha e resolva tudo?

  • Quais as portas que estamos esperando passivamente? Quais as cavernas nas quais deveríamos tentar sair?

A visita da Fé

Notando Nosso Pai que aquele filho formulava súplicas incessantes, entre a revolta e a amargura, profundamente compadecido enviou-lhe a .
A sublime virtude exortou-o a confiar no futuro e a persistir na oração.
O infeliz consolou-se, de algum modo, mas, a breve tempo, voltou a lamuriar.
— Jesus no Lar, capítulo 25, “A visita da verdade”.

Percebe-se que embora a maneira exigente do homem da caverna pedir ajuda, Deus é misericordioso. Nosso Pai Amoroso se compadece da nossa ignorância e cegueira até mesmo no pedir. Nos enviando sempre a ajuda necessária.

Mas o que seria a visita da fé? De que forma nós somos visitados pela fé?
A fé nos visita com tudo que nos inspire a confiança. A confiança em Deus, a confiança no futuro. Pode ser uma leitura ‘aleatória’, pode ser uma palestra que ouvimos, pode ser uma palavra amiga que recebemos, uma intuição, ou até mesmo uma provocação de um desafeto.

São várias as maneiras que somos levados a confiar, ou levados a pensar no quanto poderíamos confiar mais. E a fé é esta confiança na Misericórdia Divina, a confiança no futuro que temos como Espíritos imortais. É a certeza de que tudo o que acontece tem um motivo, tem uma causa. E que tudo o que fazemos tem consequências, pode ser para o bem ou para o mal, vai de acordo com nosso livre-arbítrio.

E o quando somos chamados pela fé, que fazemos? Confiamos? Usamos esta como uma força para nos movermos na direção que precisamos? Ou será que agimos como o homem da caverna?

Sabe quando você se depara com uma mensagem qualquer, ela te enche de fé e te dá muita energia para encarar a vida, mas logo quando a primeira dificuldade aparece, tudo aquilo se esvai e volta ao estado anterior? Foi isso que aconteceu com o homem. E nos identificamos com ele.

A visita da Esperança

Queria fugir ao monturo e, como se lhe aumentassem as lágrimas, o Todo-Poderoso mandou-lhe a Esperança.
A emissária afagou-lhe a fronte suarenta e falou-lhe da eternidade da vida, buscando secar-lhe o pranto desesperado. Para isso, rogou-lhe calma, resignação, fortaleza.
O pobre pareceu melhorar, mas, decorridas algumas horas, retomou a lamentação.
Não podia respirar — clamava, em desalento.
— Jesus no Lar, capítulo 25, “A visita da verdade”.

A esperança veio pra complementar o trabalho que a fé tinha começado. A confiança fraquejou mas a esperança nos faz lembrar do que há por vir e que pode ser melhor. A fé nos dá a certeza do futuro, mas a esperança nos faz pensar neste futuro com mais positividade. Com fé e esperança, como não superar as dificuldades?

Talvez neste ponto nos sentimos tentados a julgá-lo, a pensar que ele não está se ajudando, que não deu valor a fé e a esperança que recebeu.

Mas as vezes não somos todos assim? Será que nós não nos lamentamos demais em relação as nossas dificuldades? E quem somos nós para julgar a lamentação alheia?

A visita da Caridade

Condoído, determinou o Senhor que a Caridade o procurasse.
A nova mensageira acariciou-o e alimentou-o, endereçando-lhe palavras de carinho, qual se lhe fora abnegada mãe.
— Jesus no Lar, capítulo 25, “A visita da verdade”.

Veio agora a mais bela de todas as virtudes, a caridade.

Ele já recebeu a fé que lhe daria a confiança para seguir, a esperança que permitia acreditar em um futuro melhor e chegou a caridade, lhe acolhendo, lhe ajudando, dando suporte para se levantar.

A visita da Verdade

Todavia, porque o mísero prosseguisse gritando, revoltado, o Pai Compassivo enviou-lhe a Verdade.
Quando a portadora de esclarecimento se fez sentir na forma de uma grande luz, o infortunado, então, viu-se tal qual era e apavorou-se. Seu corpo era um conjunto monstruoso de chagas pustulentas da cabeça aos pés e, agora, percebia, espantado, que ele mesmo era o autor da atmosfera intolerável em que vivia.
— Jesus no Lar, capítulo 25, “A visita da verdade”.

Na maioria das vezes, somos nós que damos causa ao que nos importuna.

As nossas chagas nada mais são, que os erros que nós cometemos ao longo de todas as nossas existências enquanto Espíritos imortais. Algumas, nós vamos curando no caminho, mas muitas ainda estão lá, expostas, esperando a nossa ação para correção.

Agora imagine como seria se nós nos depararmos com as nossas próprias chagas, vislumbrar nosso próprio histórico?

Muito provavelmente surgiria o espanto e a ação de sair correndo.

A responsabilidade

O pobre tremeu cambaleante, e, notando que a Verdade serena lhe abria a porta de libertação, horrorizou-se de si mesmo; sem coragem de cogitar da própria cura, longe de encarar a visitadora, frente a frente, para aprender a limpar-se e purificar-se, fugiu, espavorido, em busca de outra furna onde conseguisse esconder a própria miséria que só então reconhecia.

O Mestre fez longa pausa e terminou:

— Assim ocorre com a maioria dos homens, perante a realidade. Sentem-se com direito à recepção de todas as bênçãos do Eterno e gritam fortemente, implorando a ajuda celestial. Enquanto amparados pela Fé, pela Esperança ou pela Caridade, consolam-se e desconsolam-se, creem e descreem, tímidos, irritadiços e hesitantes; todavia, quando a Verdade brilha diante deles, revelando-lhes a condição em que se encontram, costumam fugir, apressados, em busca de esconderijos tenebrosos, dentro dos quais possam cultivar a ilusão.
— Jesus no Lar, capítulo 25, “A visita da verdade”.

Este homem não suportou compreender que na verdade era ele que dava causa a todo o seu sofrimento. Ele não suportou encarar a verdade de que amenizar aquele sofrimento, dependia especialmente dele mesmo.

Jesus foi claro em sua fala quando diz que nós costumamos evitar as verdades que nos libertariam. É muito cômodo arrumar desculpas para nos boicotar e como é duro parar e pensar nisso. Como é difícil encarar a realidade e perceber o quanto nós que atrapalhamos a nossa caminhada.

Então fica aqui alguns convites: o de pensar na nossa cegueira, de pensar na nossa caverna. O convite para nos ampararmos na nossa fé, na esperança e na caridade. Mas sem esquecer de encarar a verdade, de se encher de coragem para realizar aquilo que pode nos ajudar a sair da nossa caverna, a curar as nossas chagas e a buscar a nossa luz!

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.

**Imagem em destaque via Pixabay.com

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