O apego e o desapego são conceitos muito comentados e discutidos no mundo que vivemos. Em verdade, todos têm noção, intimamente, do que é o apego e o desapego. No entanto, por conta de nosso nível evolutivo, ainda temos muitos apegos, o que nos faz refletir e pensar sobre nossa evolução como seres imortais.

Em palestra nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Claudia Flemming Colussi nos convida a refletir e analisar nossa caminhada em relação ao apego e ao desapego.

Origem do apego

O apego está, por vezes, relacionado com nossas inseguranças. O medo de perder algo, uma pessoa, nossos bens materiais, emprego, etc. faz com nos apeguemos em função dessa insegurança e do medo.

Não obstante, o apego pode estar relacionado com nosso egoísmo. Esse sentimento pode estar dentro de nós mesmos sem que percebamos. Por vezes, está disfarçado de zelo e acaba por passar despercebido. No entando, a questão principal é esses apegos podem gerar sofrimentos, afetando nosso processo evolutivo.

Tipos de apego

A palestrante explicita que existem diferentes tipos de apegos. São eles:

  1. Apego à matéria
  2. Apego às pessoas
  3. Apego a comportamentos
  4. Apego ao passado

Iniciaremos elaborando os conceitos do apego à matéria:

Apego à matéria

O apego à matéria é o mais comentado dentro da Doutrina Espírita. Diversos autores e livros comentam sobre esse tipo de apego, tendo também foco em falas de Jesus. 

Esse tipo de apego é decorrente do instinto primário de sobrevivência do homem. Nos primórdios de nossa evolução, nos apegávamos ao mínimo para a sobrevivência, com o intuito de nos mantermos vivos. A principal questão, no entanto, é quando todas as escolhas da vida passam a girar em torno dessas conquistas materiais. 

A dificuldade de se desfazer traz consigo uma avareza grande. Por vezes, o apego ao material chega ao ponto de gerar uma não sensibilidade, dos que tem mais do que o supérfluo, em relação aos que não tem o necessário. Isso acaba trazendo um julgamento em função das posses materiais. 

Apego à matéria e a evolução moral

Aprofundando nossos entendimentos, os espíritos nos esclarecem mais sobre esse assunto em O LIvro dos Espíritos:

O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.
— O Livro dos Espíritos, questão 895.

Dessa maneira, a partir do apego às coisas materiais, é possível observar o grau de evolução do Espírito. A palestrante aponta que existem inúmeros Espíritos que nos exemplificaram esse grau maior de desapego à matéria. Dentre eles estão:

Jesus e o apego à matéria

Ainda, é possível observar a relevância do tema apego ao observarmos algumas falar de Jesus. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, observamos o convite de Jesus a observarmos os pássaros do céu:

Não acumuleis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os comem e onde os ladrões os desenterram e roubam; acumulai tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os comem; porquanto, onde está o vosso tesouro aí está também o vosso coração […] Observai os pássaros do céu: não semeiam, não ceifam, nada guardam em celeiros; mas vosso Pai celestial os alimenta. Não sois muito mais do que eles? e qual, dentre vós, o que pode, com todos os seus esforços, aumentar de um côvado a sua estatura?
— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXV, Buscai e Achareis, item 6

Ainda, Jesus nos afirma que:

Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon.
— Lucas, 16:13

Essas Duas citações nos ajudam a entender que não podemos progredir rumo à Deus se temos o foco nas riquezas e bens materiais. Dessa forma, surge o convite de pensar que nada nos pertence na Terra, nem mesmo o nosso próprio corpo. Vivemos com empréstimos de Deus para nossa evolução e vivência nessa encarnação. O apego à esses empréstimos gera um grande obstáculo em nosso progresso, visto que no fim, as virtudes, atitudes e pensamentos elevados são o que contam em nossa caminhada eterna.

O desapego à matéria

Falando sobre o desapego aos bens materiais, é inevitável fazer uma análise de uma sociedade consumista que vivemos. A palestrante lembra que o desapego é diferente do consumismo exacerbado, repondo nossos bens por outros melhores ou mais tecnológicos. Dessa forma, faz-se necessário uma análise crítica do que temos, pensando se precisamos de tudo. Jesus, ainda, nos dá o remédio para o apego por meio da parábola dos talentos.

Ao servidor que fez o bom uso dos talentos, servindo de exemplo de desapego aos bens materiais, o Senhor disse:

Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Não se pode servir a Deus e a Mamon, item 6

No entanto, àquele que não fez esse bom uso, sendo apegado aos talentos confiados à ele, escondendo-os com receio de os perder, seu Senhor o disse:

Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, devias pôr o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Não se pode servir a Deus e a Mamon, item 6

Apego às pessoas

Outro tipo importante de apego é o apego às pessoas. Esse apego ocorre quando existe um sentimento de posse sobre outras pessoas. Essa posse ou apego está colocado no sentido de depender daquela pessoas, carência. Dessa forma, devemos tomar cuidado com esse apego excessivo. 

A palestrante relembra os casos de feminicídios em que, historicamente, o homem tem posse sobre as decisões da mulher. Nesse sentido, a expositora relembra que existem diferenças cruciais entre o amor e o apego:

  • O amor liberta e o apego aprisiona
  • O amor convive e o apego controla
  • O amor acalma e o apego aflige
  • O amor esclarece e o apego confunde

Dessa forma, vale lembrar que tudo se encerra, a vida é feita de ciclos. Dessa forma, o apego às pessoas se apresenta de diversas maneiras ao longo de nossa vida. Seja o apego à um cônjuge ou mesmo o apego à um filho, não permitindo que esse filho cresça e siga seu próprio caminho.

Jesus e o apego às pessoas

Novamente, podemos recorrer às falas de Jesus para maiores esclarecimentos em relação ao desapego:

Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, Estranha Moral, item 4

E, ainda:

E, tendo vindo para casa, reuniu-se aí tão grande multidão, que eles nem sequer podiam fazer sua refeição. Sabendo disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o espírito. Entretanto, tendo vindo sua mãe e seus irmãos e conservando-se do lado de fora, mandaram chamá-lo. Ora, o povo se assentara em torno dele e lhe disseram: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te chamam.” — Ele lhes respondeu: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” — E, perpassando o olhar pelos que estavam assentados ao seu derredor, disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos; pois, todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIV, Honrai a vosso pai e a vossa mãe, item 5.

Nesse sentido, Jesus nos alerta até mesmo ao apego em relação aos papeis que assumimos enquanto encarnados. Por vezes, o apego ao papel de ‘mãe’, ‘pai’ ou ‘filho’ pode gerar complicações em encarnações e vivências futuras.

Apego a comportamentos

Outro tipo de apego tem a ver com o autoconhecimento e libertação em relação à vícios, padrões de atitudes, etc.

O apego aos comportamentos não permite que aproveitemos as oportunidades de viver novos padrões comportamentais e psíquicos. Por vezes, esse apego à comportamentos de forma coletiva faz com que ajamos de forma diferente do que nossa consciência nos aponta como correto. 

Dessa forma, a palestrante informa que desapego aos comportamentos implica, por vezes, em ‘ser o chato’ e chamar a atenção por agir de forma diferente. Mas com isso, lançamos sementes de padrões vibracionais positivos, influenciando outros a seguirem esse padrão. 

Apego ao passado

A última forma de apego apresentada foi o apego ao passado. Esse apego se dá em função de situações ocorridas ou coisas que aconteceram no passado. A pessoa apegada ao passado se torna saudosista, recordando momentos felizes e/ou difíceis, trazendo as situações de volta ao presente.

A palestrante ressalta que ao nos acorrentarmos à situações passadas, não conseguimos seguir adiante. Isso se dá porque nosso cérebro atua como tradutor do pensamento de nosso Espírito/de nossa consciência. Portanto, nosso cérebro não entende que essas situações já ocorreram e desencadeia reações em nosso organismo, gerando doenças corporais e psíquicas.

Dessa forma, o remédio para o apego ao passado, de acordo com a palestrante, é seguir adiante. Devemos nos considerar responsáveis por nossas evoluções, conduzindo nosso pensamento para o agora, corrigindo imperfeições e aprimorando virtudes no hoje.

O Desapego

Para encerrar as reflexões, a palestrante retoma o desapego, trazendo uma mensagem do livro “Francisco, o Sol de Assis”, de Divaldo Franco e Cezar Braga Said:

1. Perceba que tudo é passageiro, tudo, sem exceção
2. Viva intensamento o hoje, sem ansiedade exagerada quanto ao futuro e sem lembranças amargas do passado
3. Tente não criar grandes expectativas
4. Filtre com equilíbrio as críticas e os elogios, não permitindo que fala alguma determine o seu jeito de ser
5. Liberte-se de tudo que não tem utilidade e se encontra guardado, trancado, parado em sua casa, em sua vida
6. Valorize cada relacionamento, mas não queira reter ou controlar ninguém
7. Mantenha contato com quem nada possua ou quase tudo tenha perdido
8. Aquiete-se e faça silêncio interior a fim de ouvir seu coração, sua intuição, sua alma
9. Cultive a fé dependente do rótulo religioso que tenha ou não abraçado
10. Encontre prazer nas coisas simples da vida
— Francisco, o Sol de Assis, Decálogo do Desapego

Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Referências Bibliográficas:

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro.
  2. Evangelho de Lucas
  3. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro, 131ª edição, 2013. 
  4. FRANCO, Divaldo Pereira; SAID, Cezar Braga. Francisco, o Sol de Assis. Decálogo do Desapego.

* Colaborou com esta publicação: Alberto Luz.
** Imagem em destaque:
Markus Spiske via Pexels.

Categorias: Notícias

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