O acolhimento dos próprios sentimentos pode fazer toda a diferença em um momento de dificuldade ou aflição. Essa ideia é apresentada e discutida em uma palestra realizada no dia 01 de julho de 2021 nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, nos convidando a entender como estamos e acholher nossas dificuldades.

Como vai você?

O tema central da palestra permeia na ideia de valorização da vida, com o convite de olharmos para essa vida como um presente tão importante que temos hoje. A palestrante indica alguns canais gratuitos para os que precisam ouvir palavras de conforto em momentos difíceis:

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.

Dessa forma, a palestrante explicita que seu objetivo foi falar sobre valorização da vida, lembrando que não estamos sozinhos nesse processo.

O Sentido da Vida

Como explicitado anteriormente, a pergunta “Como vai você?” nos remete à campanha de valorização da vida, portanto, a palestrante comenta sobre um projeto da Federação Espírita Brasileira (FEB) chamado “Projeto Prefiro Viver”, que produziu podcasts e entrevistas com temas muito relevantes à valorização da vida, sob a óptica espírita.

Em um desses podcasts, foi realizada uma entrevista com a médica Márcia Léon, integrante da Associação Médica Espírita Planalto, e pode ser acessada na página da FEB no Spotify. Para a médica, foi perguntado o que significa valorizar a vida. Em sua resposta, ela indica que antes de falar sobre o significado de valorizar a vida é importante que se defina a VIDA.

Para Márcia, a VIDA é bem outorgado por Deus para cada um de nós ao longo das nossas existências. Há os que mencionam a vida como um milagre! É sim uma maravilha de criação que não é obra nossa, é uma obra divina.

Em O Livro dos Espíritos, nas questões 132, 133 e 133-a, o sentido da vida corporal é analisado no item “Objetivo da Encarnação”. Lá, entendemos que o Espírito é criado simples (único) e ignorante (sem conhecimentos), mas destinado à perfeição. Faz-se necessária a existência de vidas corporais para buscar o seu progresso moral e intelectual a partir das experiências vividas.

Nesse sentido, também entendemos que para o Espírito adquirir a perfeição deve cumprir três trabalhos enquanto encarnado:

  • Realizar missão;
  • Sofrer expiação;
  • Colaborar na obra geral da criação.

A missão consiste em uma tarefa singela ou grandiosa de acordo com a capacidade intelectual e moral do Espírito.

A verdadeira expiação consiste nas vicissitudes da existência corporal – vicissitude que é a alteração pela passagem do tempo. É inegável a aprendizagem obtida pelo Espírito ao ver seu corpo passar da infância à ancianidade.

Afinal, então, o verdadeiro sentido da vida para o Espiritismo é atingir a perfeição, colaborando assim na obra geral da criação.

A Vida e o Progresso

Dessa maneira, vamos progressivamente conhecendo a verdade explicitada pelo Cristo:

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”
(João 8:32)

Através da vivência em sociedade vamos desenvolvendo conhecimento para chegarmos à felicidade de espíritos puros. Dessa forma, Deus colocou em nossa consciência as suas leis e nos apresenta outras duas leis:

Assim, entendemos que Deus é tão bom que nos deixa plantar a semente que queremos, mas é tão justo que faz com que colhamos dessa mesma semente que plantamos. Ao longo da nossa jornada temos oportunidade de fazermos escolhas, podemos ser heróis ou vilões. Mas a escolha não é eterna, temos infinitas oportunidades de escolher, reparar e construir ao longo de nossa jornada eterna.

O exemplo de Judas

Nesse sentido, a palestrante nos remete ao exemplo de Judas.

Judas era discípulo de Jesus e passou a ser conhecido pelo beijo traidor. Por conta de seu amor por Jesus, Judas queria que a vontade do Cristo fosse maior que todas as outras e que essa vontade dominasse o governo da época, impondo o ideal cristão à todos.

Até hoje, Judas é julgado como traidor, porém não paramos para pensar no tempo de reparação que esse Espírito imortal teve ao longo de suas outras encarnações e vivências. Judas teve sua consciência dilacerada, gerando um remorso profundo por conta desse ato. No entanto, a maior traição de Judas não foi o beijo, mas sim o suicídio. Com o beijo, ele traiu um amigo, enquanto que com o suicídio, traiu a vida, traiu o amor de Deus.

A palestrante lembra, ainda, que a dor não pode ser comparada em nenhum momento. Portanto, a dor que Judas passou foi necessária para seu progresso e sua caminhada evolutiva. Isso fez com que hoje Judas seja um dos Espíritos que ajuda Jesus a governar nosso planeta, demonstrando a capacidade de regenerar-se mesmo com a dor dilacerante. Não há mal que dure para sempre

Valorização da Vida

Muitas vezes, podemos pensar que Deus não nos deu mecanismos de superar nossas dificuldades. Por vezes, nos enganamos pensando que a oportunidade de repensar nossos atos virá somente em outra existência, em outro planeta. Muitas vezes nos enganamos quando não percebemos que do nosso lado temos uma família que veio para passar por dificuldades junto de nós. Quando nos perdemos nesse processo e caímos na solidão extrema, temos dificuldade de perceber o outro que está lá para nos apoiar e ajudar.

Assim, a palestrante nos questiona sobre:

“Qual a coisa mais importante da minha vida hoje?”

A resposta para essa pergunta pode ser muito difícil de ser respondida, porém, quando começamos a pensar que a coisa mais importante de minha vida sou eu mesmo, a minha própria vida, passamos a entender que não precisamos passar pelas dificuldades sozinhos. Compreendemos que não há nada que aconteça nessa vida sem a permissão divina. Hoje, temos as melhores oportunidades de toda a nossa existência, pois temos a justiça e bondade divina nos auxiliando.

Jesus e a Vida

Jesus, com toda a sua sabedoria, nos disse:

“Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”
(João 14:6)

Em diversos momentos, Jesus nos questiona e nos convida à interiorização. Nesse sentido, Jesus nos pergunta em diversos momentos o porquê de estarmos aqui, se não para entender os processos que devemos passar, as dificuldades que nos tornam mais fortes e as dores que lapidam nossa alma?

Assim, conseguimos mudar a nossa perspectiva em relação à vida, entendendo que temos diversas oportunidades de crescimento por meio das dificuldades e que a ideia de sair da inércia nos traz consolo e amparo, visto que passamos a caminhar rumo ao progresso.

O acolhimento aos sentimentos

Faz-se necessário, portanto, um efetivo acolhimento de nossos sentimentos. Ao perguntarmos “Como vai você?”, lembramos da necessidade dessa acolhida efetiva, evitando transtornos e dificuldades que dificultam nossa caminhada evolutiva.

Assim, a palestrante remete à fala da médica Márcia Léon, citada anteriormente:

Não é a toa que Deus nos deu 2 olhos para observar, 2 ouvidos para escutar, 1 boca para esclarecer e duas mãos para amparar. Quando reunimos esse nosso eu em prol do outro conseguimos ser instrumentos de Deus na ajuda daquele que realmente precisa.

À medida que buscamos cuidar da nossa vida, olhando para dentro de nós, somos convidados constantemente à um olhar para o próximo. Ao acolhermos o próximo, passamos a entender com mais efetividade nossas próprias dores, visto que, como Jesus pregava, nós aprendemos e evoluímos com a prática efetiva da caridade, vivenciando o amor cristão. Ao mesmo tempo, passamos a valorizar as conexões e a grande família espiritual que nos acolhe e convida ao melhoramento constante.

A palestrante cita, ainda, o livro Vidas Vazias, da autora espiritual Joanna de Ângelis, no capítulo 4:

Nunca houve tanta solidão entre as criaturas humanas como atualmente, ao mesmo tempo que a população do planeta atinge índice elevado e lota os espaços disponíveis. Tem-se a impressão de que somente o sonho do ter e do poder proporciona bem-estar, mesmo que dispare o gatilho interno da insatisfação e do medo de não poder gozar indefinidamente.
— Joanna de Ângelis

A autora, assertivamente, explicita que as dores das criaturas humanas se fazem extremamente presentes. No entanto, essas dificuldades nos fazem mais fortes, fazendo com que sigamos rumo à regeneração, rumo ao progresso individual e coletivo. Isso faz com que nossa vida tenha papel essencial no desenvolvimento e na regeneração do planeta como um todo. O individual transforma o coletivo, nossas dores e nossos aprendizados fazem com que evoluamos como um todo.

Eu tenho vidas

A expositora se encaminha para as reflexões finais da palestra, trazendo versos da cantora, pianista e compositora Nina Simone:

Não tenho fé
Não tenho amor
Não tenho Deus não tenho filhos não tenho
Então o que eu tenho?
Por que mesmo eu estou viva?
o que eu tenho ninguém pode tomar
eu tenho o meu cabelo, meu nariz meu cérebro, minha boca
eu tenho, eu tenho a mim mesma.
Eu tenho meu sangue.
Tenho minha vida
Eu tenho vidas
Dor de cabeça
De dente
Eu tenho horas ruins assim como você.
Eu tenho a vida.
Tenho minha vida
Eu tenho vidas.

Chegando nesse momento da vida, é possível que alguns ideais que você tenha e alguns motivos para viver não mais pareçam fortes o suficiente a ponto de sustentar a sua existência. Filhos podem não estar mais por perto ou talvez você nunca tenha tido filhos. Deus pode ser uma ideia abstrata demais para você. O amor romântico gerou desilusões e você também não tem essa âncora.

Na primeira parte da canção ela indica que não tem vários pontos chamados de âncoras de nossa existência mas ela questiona o que ela teria. A música toma um brilho mais forte, menos melancólico e ela se dá conta que tem algo que ninguém pode tirar, ela tem ela mesmo. Ela nos lembra que você tem uma vida, você tem vidas, você tem a vida e isso não é pouco. Você tem a si mesmo, isso também não é pouco

E só por isso já vale fazer um dos mais difíceis trabalhos de resistência, continuar possuindo a vida, a sua vida e a você. Lembre que no auge da dor pode ser muito difícil você perceber essas âncora da vida e lembrar que tudo passa. Mas lembre que a sua vida é a maior ancora, que o próprio existir é a maior sustentação.

Você tem uma vida

Você tem vidas

Você tem a vida

Você tem a si mesmo e isso não é pouco.

Ninguém pode tirar você de você, nem você mesmo, mesmo com a morte do corpo físico, você continuará fadado a ser você mesmo. Não vale a pena adiar tanto a difícil tarefa de se aceitar e quem sabe um dia se amar.

Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

* Colaborou para esta publicação: Alberto Luz.

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