Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Sérgio Egídio traz o tema Expiações Terrestres, que consta no capítulo 8 da Segunda Parte do livro O Céu e o Inferno, quarta obra básica da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec.

O palestrante inicia nos questionando sobre a causa das aflições que vemos no mundo todos os dias. Se não conosco, as vemos com aqueles a quem amamos, irmãos que compartilham nossa existência, crianças que nascem com imperfeições físicas, outras que nascem na miséria. Sabemos pela espiritualidade por meio da pergunta 13 de O Livro dos Espíritos, que Deus é soberanamente justo e bom. Então, como atribuir a causa de nossas aflições? 

“Nós temos o livre arbítrio,” lembra Sérgio Egídio. “Este é um patrimônio do Espírito Imortal. A Doutrina Espírita nos revela a lei da reencarnação. Não vivemos apenas uma vida.” O palestrante traz então conceitos encontrados na terceira obra básica, O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V, Bem-aventurados os aflitos.

Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que, motivo não haveria para que se emendasse. Confiante na impunidade, retardaria seu avanço e, consequentemente, a sua felicidade futura.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, item 5.

Como então achar a causa do sofrimento, ou a utilidade do sofrimento? Em O Céu e o Inferno temos no capítulo VIII um exemplo bastante útil para tal compreensão.

Expiações terrestres: um cientista ambicioso

Dentre os casos listados por Allan Kardec para ilustrar a questão das causas das aflições, consta o de uma senhora de 70 anos que vivia em Bordeaux. Desde os cinco meses de idade era acometida por uma série de doenças graves, que quase a levaram ao desencarne por diversas vezes. Por três vezes havia sido envenenada por tentativas frustradas da incerta medicina da época. Tinha o temperamento alterado pela dor e pelos remédios. 

A filha, que era espírita e médium, orava fervorosamente pelo alívio da mãe. Era levada pela Piedade a interceder, assim como muitos de nós fazemos com todos os nossos entes queridos. Até que o espírito protetor veio ao esclarecimento, trazendo uma mensagem sobre os bastidores daquele sofrimento, cujas causas poderiam ser encontradas no passado. 

Tua mãe foi outrora um bom médico, muito conhecido numa classe em que nada custa para assegurar o bem-estar, e na qual ele foi cumulado de dons e de honrarias. Ambicioso por glória e riquezas, querendo alcançar o apogeu da ciência, não em vista de aliviar seus irmãos, pois não era filantropo, mas em vista de aumentar sua reputação, e, por conseguinte, sua clientela, nada lhe custou para levar a bom fim seus estudos. A mãe era martirizada em seu leito de sofrimento, porque ele previa um estudo nas convulsões que provocava; a criança era submetida às experiências que deviam dar-lhe a chave de certos fenômenos; o velho via apressar seu fim; o homem vigoroso sentia-se enfraquecido pelos experimentos que deviam constatar a ação de tal ou qual beberagem, e todas essas experiências eram tentadas no desgraçado sem desconfiança. A satisfação da cupidez e do orgulho, a sede de ouro e de reputação, tais foram os motivos de sua conduta. Foram precisos séculos e terríveis provas para domar esse Espírito orgulhoso e ambicioso; depois o arrependimento começou sua obra de regeneração, e a reparação está terminando, pois as provas desta última existência são brandas perto das que ele aguentou. Portanto, coragem, se a pena foi longa e cruel, a recompensa concedida à paciência, à resignação e à humildade será grande.
— O Céu e o Inferno, Segunda Parte, capítulo VIII.

Essa comunicação vem como um alerta para todos nós. Às vezes um exemplo como esse de vida fala fundo em nosso coração, faz com que repensemos as nossas atitudes. Não adianta ouvir tais exemplos, frequentar uma casa espírita, pedir a Deus, se voltarmos para nossas casas, voltarmos para nosso meio, e agir da mesma forma. É preciso colocar em prática o que aprendemos na Doutrina Espírita. Ninguém muda da noite para o dia, mas precisamos dar nossos primeiros passos rumo à reforma íntima. 

Se vivemos um inferno em nossas consciências hoje, é porque a hora de mudar já chegou. Façamos como recomenda o guia espiritual daquela filha que buscava consolo para os sofrimentos da mãe. Tenhamos coragem e resignação, na certeza que tudo tem sua razão de ser, pois “não há um único dos sofrimentos que causastes que não encontre um eco nos sofrimentos que suportais”.

Coragem, vós todos que sofreis; pensai no pouco tempo que dura vossa existência material; pensai nas alegrias da eternidade; chamai a vós a esperança, esta amiga devotada de todo coração sofredor; chamai a vós a fé, irmã da esperança; a fé que vos mostra o céu onde a esperança vos faz penetrar antes do tempo. Chamai também a vós estes amigos que o Senhor vos dá, que vos rodeiam, vos apoiam e vos amam, e cuja constante solicitude vos leva de volta àquele que havíeis ofendido ao transgredir as suas leis.
— O Céu e o Inferno, Segunda Parte, capítulo VIII.

Acompanhe agora a palestra que inspirou esta publicação:

* Colaborou para esta publicação: Magda do Carmo Gonçalves.
** Imagem em destaque: via pexels.com

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