Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, Ilani Nunes traz o tema Perdão das Ofensas, que consta nos itens 14 e 15 do capítulo X de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Kardec escolhe para estes itens as instruções dos espíritos trazidas nas mensagens do Espírito Simeão e do Apóstolo Paulo.

A expositora nos esclarece trazendo falas comuns que costumamos ouvir sobre o perdão, e reflete sobre tais atitudes à luz da Doutrina Espírita.

Perdão e esquecimento

Aprendemos com o Apóstolo Paulo que:

O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo X item 15.

Uma fala bastante comum é: perdoar é esquecer. “Mas como esquecer alguém ou situação que feriu profundamente nossa alma ou nosso corpo? Seria possível esquecer?,” questiona a palestrante. Com o tempo você poderá deixar para trás e já não se lembrar com mágoa, mas perdoar vai muito além de registro da memória.  

“Perdoar é você ter uma atitude em relação a você mesmo, ao seu coração ferido. O perdão é do coração, o esquecimento é da razão,” comenta Ilani. Ao tratar nossos sentimentos e nosso coração, estamos tratando a alma. À medida que tratamos em nós mesmos essa dor, vamos conseguindo perdoar. Ao nos distanciarmos da dor, colocando intenção de amor, vamos também nos perdoando. E ao nos tratarmos, automaticamente, vamos perdoando também o outro.

“Mesmo que o outro tenha intenções de fazer o mal, pelo seu pensamento no bem, pela construção que está fazendo, a memória que guarda da pessoa vai se transformando. Você passa a pensar: ‘Que Deus tenha misericórdia, que essa pessoa não consiga fazer outras coisas como essa ou piores do que essa com mais ninguém,'” ensina a palestrante. 

Vamos assim, aos poucos, sem revolta, trazendo para nosso ambiente íntimo, para nossa casa mental, esse amor. 

Perdão e convivência

Há também quem diga: “Perdoei, mas eu não quero mais ver por aqui”. Isso é perdão? A palestrante nos esclarece: “você só percebe que você perdoa quando você pode olhar para o ofensor sem sofrer”. Significa eliminar a dor da raiva, do aborrecimento. É quando conseguimos olhar para pessoa sem estar com esse pensamento que o Apóstolo Paulo identifica com a inferioridade moral. Nesta hora podemos declarar, de coração, que tudo está perdoado.

O coração está pacífico? O coração está em harmonia? Conseguiu tirar aquela dor do coração, ainda que a memória esteja presente? “Há quem fique uma encarnação toda com esse ressentimento, e muitas vezes vai para outra encarnação levando toda essa bagagem,” conta Ilani. 

Perdoar 70 vezes 7

Ele, o justo por excelência, responde a Pedro: perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude; farás, enfim, o que desejas que o Pai celestial por ti faça.
— — O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo X item 14.

Quando tomamos esse princípio de trabalhar em nós a dor quando ela chega e perdoar o outro, observando a dificuldade que o irmão tem, conseguimos nos aproximar desse caminho que Jesus nos ensina. “Mas o que dizer de quem assume a postura rígida de ‘não admito que me ofenda’?,” questiona Ilani. A estes, alerta a palestrante, está faltando a humildade ao coração.

“Não está o Pai Celestial a nos perdoar frequentemente? Deus nos perdoa o tempo inteiro. Quantos erros nós cometemos por dia?,” reflete a palestrante. Pensemos nisso ao considerar os erros alheios. 

Permitamos que a Bondade Divina e a poesia de Maria Dolores nos toque a alma e inspire a misericórdia em nós.

Cantiga do Perdão
Não te iludas, amigo,
Por mais se expandam lágrimas contigo,
Todo lamento é vão…
Tudo o que tende para a perfeição,
Todo o bem que aparece e persiste no mundo
Vive do entendimento harmônico e profundo,
Através do perdão…

Perdão que lembra o sol no firmamento,
Sem se fazer pagar pelo foco opulento,
A vencer, dia-a-dia,
A escuridão da noite insondável e fria
E a nutrir, no seu longo itinerário,
O verme e a flor, o charco e o pó, o ninho e a fonte,
De horizonte a horizonte,
Quanto for necessário;

Perdão que nos destaque a lição recebida
Na humildade da rosa,
Bênção do céu, estrela cetinosa,
Que, ao invés de pousar sobre o diamante,
Desabrocha no espinho,
Como dizer que a vida,
De caminho a caminho,
Não despreza ninguém,
E bela, generosa, alta e fecunda,
Quer que toda maldade se transfunda
Na grandeza do bem…

Perdão que se reporte
À brandura da terra pisoteada,
Esquecida heroína de paciência,
Que acolhe, em toda parte, os detritos da morte
E sustenta os recursos da existência,
Mãe e escrava sublime de amor mudo,
Que preside, em silêncio, ao progresso de tudo!…

Amigo, onde estiveres,
Assegura a certeza
De que o perdão é lei da Natureza,
Segurança de todos os misteres.

Perdoa e seguirás em liberdade
No rumo certo da felicidade.
Nas menores tarefas que realizes,
Para lembrar sem sombra os instantes felizes

Na seara da luz,
Na qual a Luz de Deus se insinua e reflete,
È forçoso exercer o ensino de Jesus
Que nos manda perdoar
Setenta vezes setembro Cada ofensa que venha perturbar
O nosso coração;
Isso vale afirmar,
Na senda de ascensão,
Que, em favor da vitória,
A que aspiras na luta transitória,
É mais do que importante, é essencial
Que te esqueças, por fim, de todo mal!…

E que, em tudo, no bem a que te dês,
Seja aqui, mais além, seja agora ou depois,
Deus espera que ajudes e abençoes,
Compreendendo, amparando e servindo outra vez!…

— Maria Dolores, no livro Antologia da Espiritualidade, pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou com esta publicação: Ilani Nunes.
**Imagem em destaque: via pexels.com

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