Em palestra realizada na Associação Espírita Fé e Caridade, a trabalhadora da casa e expositora Susana Rodrigues nos traz reflexões sobre o perdão e o amor aos inimigos. Ao ouvir ou ler essa frase: “Amai os vossos inimigos”, nos perguntamos imediatamente: “isso é possível?”. É possível, de acordo com as possibilidades de cada ser humano. 

No Evangelho Segundo o Espiritismo, Alan Kardec dedica um capítulo inteiro, o capítulo XII, ao ensinamento de Jesus sobre “amar aos inimigos”. Kardec nos esclarece que essa máxima não quer dizer que vamos ter o mesmo carinho por alguém que nos quer mal, como teríamos por um amigo, mas sim, que devemos respeitar cada pessoa como ela é, de acordo com seu momento evolutivo e, se possível, auxiliar — mesmo que não tenhamos afinidade com essa pessoa.

Perdão e amor aos inimigos

Perdoar e amar os inimigos requer um longo e lento caminho de aprendizagem, buscando o autoconhecimento, que é imprescindível na estrada do crescimento moral.

A afinidade consiste na semelhança, identidade ou conformidade de gostos, interesses, sentimentos, propósitos, pontos de vista. Muitas vezes em nossa vida pensamos e não sabemos porque, mas determinada pessoa, nos causa um sentimento de repulsão. Trata-se da assimilação e repulsão dos fluidos. O fluido perispiritual seria, por exemplo, uma das causas da simpatias e antipatias entre pessoas que se veem pela primeira vez. Isso porque o perispírito irradia ao redor do corpo uma espécie de atmosfera impregnada das qualidades boas ou más do Espírito encarnado. (Revista Espírita, 1867).

Duas pessoas que se encontram, experimentam, pelo contato dos fluidos, impressão agradável ou não. Daí a diferença de sensações que sentimos com a aproximação de um amigo ou de um inimigo.

Antipatia e simpatia

Quem quer que alimente pensamentos de ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, animosidade, falsidade, hipocrisia, malevolência, espalha em torno de si eflúvios fluídicos perturbadores que reagem sobre os que o cercam. Compreende-se que cada indivíduo traga consigo também um cortejo de espíritos simpáticos, bons ou maus. Cada ser traz para perto de si seres encarnados ou desencarnados de acordo com sua escala de evolução moral. 

Por isso, o trabalho e o estudo: para que possamos treinar e praticar os pensamentos, sentimentos, atos e palavras de benevolência. O livro dos espíritos, na questão 301, já nos orienta: “a simpatia que atrai um Espírito para outro é o resultado da perfeita concordância de suas tendências”. Já a questão 303 do mesmo livro, diz que “um dia todos os espíritos serão simpáticos um ao outro”.

Não podemos esquecer também que sempre há um porquê de certos espíritos encarnados ou não, sentirem que a energia não combina e que, até, existe animosidade entre eles. Aqui, na Terra, no atual estágio evolutivo em que nos encontramos, não nos é dado saber o que fizemos em encarnações pregressas. Deus, em sua sabedoria nos possibilitou o esquecimento. Mas, no plano espiritual, vamos entender o que causa certas aversões sem explicação momentânea.

A prática do amor

Para aprendermos a prática do amor ao próximo, então, temos que trabalhar e exemplificar as lições que Jesus nos deixou. É na vida diária que praticamos. Sempre há uma oportunidade para demonstrar o amor. Elas aparecem a todo instante, basta que vejamos e, quando não o fizermos, que possamos voltar atrás em pensamento, revendo nossos atos para os remodelar em uma próxima ocasião.

Nesta luta diária, vamos aprendendo a perdoar: “reconcilia-te com teu adversário, enquanto estás no caminho com ele” (Mateus 5:25).

Quanto é difícil para nós, ainda, quando nos sentimos ofendidos, não reconhecidos, mal interpretados, evitar os sentimentos de revolta e até de raiva. Mesmo quando já compreendemos o perdão, travamos uma luta árdua dentro de nós mesmos para não revidar, para silenciar, para entender que a ofensa representa o nível evolutivo daquele espírito, naquele momento. 

Jesus nos deixou vários exemplos de como responder o mal com o bem. Inclusive o Evangelho Segundo o Espiritismo diz que “esse exercício é uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho”. Orar é excelente estratégia para aliviar o coração quando nos sentimos ofendidos de alguma forma. E não é por acaso. São lições que devemos vivenciar para mudar nosso comportamento “antigo” para o “novo”. Novo e libertador, desatando nossas amarras viciantes de muitas encarnações vividas.

Retribuir o mal com o bem nos faz sentir em paz. É uma sensação indescritível, pois cada vez que damos um passo em direção ao perdão, a luz nos envolve.

Aprender a perdoar

Vamos falar mais um pouco sobre o caminho para aprendermos a perdoar. Onde tudo começa? Nos pensamentos, benévolos ou não.

Segundo Emmanuel, na mente, possuímos o departamento do desejo (aspirações); departamento da inteligência (evolução e cultura); departamento da imaginação (ideais e sensibilidade); departamento da memória (arquivo). Mas, acima de todos, surge o departamento da vontade (nossa força que nos encaminha para progredir).

De nossa mente partem as ondas mentais que retratam a nossa condição evolutiva e nos ligam a todos aqueles que sintonizam conosco.

O cérebro produz a energia mental, segundo a capacidade de reflexão que lhe é própria, no entanto, na vontade, temos o controle que leva a esse ou aquele rumo, estabelecendo causas que são as consequências dessa vontade.

Só a vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do espírito!

A maldade é um estado permanente? Não, é uma imperfeição temporária. A cada desencarne e reencarnação, vamos lapidando nossas imperfeições

Devemos lembrar sempre que, ao perdoar nosso inimigo, estamos resolvendo um problema aqui, nesta encarnação, e, também, no plano espiritual, quando desencarnado. A morte apenas nos livra da presença material do inimigo, que, espiritualmente, pode continuar perseguindo e alimentando o ódio e, até, a vingança, através das obsessões e subjugações, que fazem parte do momento evolutivo do planeta e que devemos aceitar com resignação. As orações pelos inimigos e também a busca de tratamento espiritual adequado são importantes. Toda a busca de cura vem da vontade de nos auxiliar e também aqueles que ainda sentem por nós sentimentos pouco edificantes.

A cura pelo amor

O amor é o único antídoto eficiente ante qualquer mal.

Como afirma Manoel Philomeno de Miranda, na psicografia de Divaldo Franco, “se alguém não nos quer bem, o problema é dele, porém, se damos motivo para que tal ocorra, o problema é nosso”. Nossa responsabilidade é grande diante do momento que vivemos no planeta em relação a não darmos motivos para que o mal se manifeste, se propague. Vigiar e orar. Cuidar dos pensamentos constantemente e praticar o bem, sem olhar a quem.

E nossos pensamentos também devem se fortalecer na prática de não responder às ofensas recebidas, como nos deixou o mestre: “não resistais ao mal que vos queiram fazer”. Isso equivale a outra lição importante: “oferecer a outra face”.

Como é difícil! Oferecer a outra face corresponde a resistir ao orgulho, que muitas vezes nos deixa cegos e não nos permite enxergar a nós mesmos e aos outros irmãos. Ainda estamos impregnados de sentimentos de poder e da necessidade de ter razão.

Quem é o ofendido? Quem é o ofensor? Um dia, impregnados de amor, essas perguntas serão irrelevantes. Todos erramos ainda. O que precisamos mesmo é reconhecer nossos erros, e, se possível, consertá-los. Se não for possível, façamos da oração com o coração, nosso instrumento, pois ela pode demorar um pouco, mas chega nos corações mais duros quando é feita com sentimento de amor pela humanidade.

Cuidemos de nós mesmos ao não permitir o desequilíbrio, em qualquer lugar onde estejamos. Que possamos, cada vez mais, levar a paz onde estivermos. Não deixemos que a “superexcitação dos instintos materiais abafe nosso senso moral”. (Livro dos Espíritos).

Amar os nossos inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem. É desejar-lhes o bem e não o mal, é socorrê-los quando necessário. É abster-se, por palavras, por atos, de tudo que os possa prejudicar. É retribuir o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar (Evangelho segundo o espiritismo, cap. XII, ítem 3).

Acompanhe agora o áudio da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
**Imagem em destaque: via pexels.com.

Referências:

EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Cap. XII. Ítem 3.

KARDEC, Allan. Hoje e Sempre (fluidos).

LIVRO DOS ESPÍRITOS. Questões 301 e 303.

MIRANDA, Manoel Philomeno de. Tramas do Destino, por Divaldo Pereira Franco.

REVISTA ESPÍRITA. 1867.

XAVIER, Chico. Pensamento e Vida, por Emmanuel.

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