O tema da morte, a possibilidade da própria morte ou de familiares e amigos, está há mais de um ano bastante presente em nosso cotidiano. A pandemia tornou esse tema ainda mais recorrente: o percebemos nos noticiários, nas redes sociais, e mesmo muito próximo de muitos de nós, daqueles que recentemente se despediram de entes queridos e agora lidam com o luto.

Em palestra sobre o tema nos canais digitais da AEFC, Fabiana Fertig nos diz que “tudo isso tem gerado situações muito dolorosas em nossos corações. Há criaturas que por medo da morte desenvolvem doenças como ansiedade, depressão, síndrome do pânico”. Outros indivíduos negam a situação e assumem comportamento arriscado, incondizente com os cuidados básicos de higiene necessários nesse momento. Ambos os casos, conforme alerta a palestrante, derivam do medo da morte.

Faz sentido nos prepararmos para a morte?

A Doutrina Espirita nos traz em seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião, a base para refletirmos sobre essa pergunta: faz sentido nos prepararmos para a morte? Não seria isso muito sombrio e deprimente? Para essa reflexão, a palestrante traz como fonte a quarta obra da codificação espírita, “O Céu e o Inferno“.

No item 1 do primeiro capítulo da segunda parte, intitulado “O Passamento”, Kardec relaciona o medo da morte ao instinto de preservação inato a todos os seres vivos, instinto sem o qual poderia se entregar a paixões desenfreadas e deixar prematuramente a vida terrena.

A certeza da vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a outra vida. Há muita gente que teme não a morte, em si, mas o momento da transição. Sofremos ou não nessa passagem? Por isso se inquietam, e com razão, visto que ninguém foge à lei fatal dessa transição. Podemos dispensar-nos de uma viagem neste mundo, menos essa. Ricos e pobres, devem todos fazê-la, e, por dolorosa que seja a franquia, nem posição nem fortuna poderiam suavizá-la.
— O Cëu e o Inferno, “O passamento”, item 1.

Ninguém foge à lei fatal dessa transição: é fato, deixaremos o corpo físico em algum momento dessa existência. Então como aplacar a preocupação com a morte?

Como a Doutrina Espirita ajuda a lidar com o medo da morte?

O estudo da Doutrina Espírita veio para nos mostrar que a vida espiritual nada mais é do que uma continuidade da vida. Como já comentado no artigo deste blog intitulado Estamos preparados para morrer?: “a vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade”. Quanto mais nosso conhecimento sobre a vida futura se sedimenta, menor é a preocupação com a morte.

Conforme diz a palestrante Fabiana Fertig, “a vida é uma só, as existências são várias”. A morte não é o fim da vida, portanto, mas apenas uma passagem.

Ao evoluirmos, uma concepção quase que infantil sobre a espiritualidade dá lugar a uma visão de justiça e de oportunidade de continuarmos onde paramos. Somos imortais e infinitas são nossas oportunidades. O invólucro carnal é como uma espécie de casulo. Preparamos e trabalhamos nas boas ações, na caridade, afim de nos soltarmos como uma borboleta no momento da passagem.

A fé raciocinada nos traz a fortaleza que precisamos para passar por este processo com tranquilidade e sem vacilos. Como bem explanado por Kardec em O Céu e o Inferno:

O espírita sério não se limita a crer porque compreende, e compreende porque raciocina; a vida futura é uma realidade que se desenrola incessantemente a seus olhos; uma realidade que ele toca e vê, por assim dizer, a cada passo e de modo que a dúvida não pode empolgá-lo, ou ter guarida em sua alma. A vida corporal, tão limitada, amesquinha-se diante da vida espiritual, da verdadeira vida. Que lhe importam os incidentes da jornada se ele compreende a causa e utilidade das vicissitudes humanas, quando suportadas com resignação? A alma eleva-se-lhe nas relações com o mundo visível; os laços fluídicos que o ligam à matéria enfraquecem-se, operando-se por antecipação um desprendimento parcial que facilita a passagem para a outra vida. A perturbação consequente à transição pouco perdura, porque, uma vez franqueado o passo, para logo se reconhece, nada estranhando, antes compreendendo, a sua nova situação.
— O Cëu e o Inferno, “O passamento”, item 14.

Não podemos dar guarida às dúvidas. É a dúvida que faz com que soframos no momento da morte e na chegada ao plano espiritual. É também a dúvida que traz boa parte dos sofrimentos que acompanham o luto.

Evidentemente, o processo do luto é normal e esperado. É preciso expressar a saudade e os sentimentos que provém da separação carnal, como belissimamente explanado na palestra de Flavio Stersi trazida no artigo O Luto segundo o Espiritismo.

Ainda que em busca de conhecimento, ainda que sabendo a teoria, a prática sempre nos surpreende. O que devemos sempre ter certeza é de que aqui, estamos em uma etapa; a morte, é apenas o início de outra. É como terminar o capítulo de um livro, como passar de fase em um jogo eletrônico. Sigamos na certeza de que estaremos sempre em busca da elevação espiritual.

Acompanhe na íntegra a palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Ana Carolina Rodrigues.
** Imagem em destaque: via Pixabay.

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