Um dos pilares de construção da Doutrina Espírita é a obtenção de respostas relacionadas às Verdades Espirituais e grandes questões filosóficas da humanidade. Nesse sentido, o Espiritismo foi construído com base no esclarecimento, consolo e, em especial, na razão. Dessa forma, a doutrina não abrange apenas o aspecto filosófico, mas sim, veio para superar conceitos, trazendo a ótica da imortalidade dentro de conceitos esclarecedores.

Por meio desse olhar da imortalidade, podemos afirmar que a avareza é um tema que diz respeito à todas as pessoas do mundo. Analogamente, a avareza é uma característica inerente à todos nós, Espíritos em evolução na Terra. Essa publicação foi inspirada em palestra realizada na Associação Espírita Fé e Caridade, no dia 18 de fevereiro de 2021.

A criação do Homem e do Universo

A criação como um todo, dos Espíritos imortais ou mesmo do universo, está mergulhada em uma grande ordem natural que rege a criação. Essa ordem divina são as conhecidas “Leis Morais”, ou “Leis Divinas”, que regulam tudo que existe na vida espiritual e material, como nos afirmam os espíritos na terceira parte do Livros dos Espíritos:

“Deus não se engana. Os homens é que são obrigados a modificar suas leis, por imperfeitas. As de Deus, essas são perfeitas. A harmonia que reina no universo material, como no universo moral, se funda em leis estabelecidas por Deus desde toda a eternidade.” – Livro dos Espíritos, questão 616

Dessa forma, podemos deduzir que as Leis divinas aplicam-se a todos os recursos que Deus nos dá, ou seja, todos os recursos materiais são, em verdade, regidos pelas Lei de Deus. Sendo assim, todas as criações e desenvolvimentos que surgem como progresso para a humanidade são presentes divinos para nosso progresso.

Os recursos e a riqueza

Ao entendermos que tudo a nossa volta é regido pelas Leis Morais, por dedução, podemos afirmar que os recursos/a riqueza também são orientados por essas mesmas leis, como afirmam os espíritos:

“Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria? ‘Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência.'” – Livro dos Espíritos, questão 814.

No entanto, a afirmação de que a riqueza está em conformidade com as Leis de Deus pode ainda parecer um pouco estranha em um primeiro momento, visto que, em geral, ao pensarmos na riqueza, não pensamos no recurso em si, mas sim na avareza, ou seja, no apego demasiado por esses bens materiais.

O problema da avareza

Seguindo a construção acima, ao entendermos que a avareza e a riqueza são fatores distintos, podemos afirmar que a riqueza em si não é um problema, mas sim a avareza.

Para comprovarmos a afirmação, tomemos como exemplo duas passagens de Jesus:

1. O jovem rico

Essa passagem nos conta sobre o diálogo de Jesus com um jovem rico, que pergunta ao Mestre o que seria necessário para atingir a Vida Eterna. Em primeiro momento, Jesus afirma que o jovem deveria seguir os já conhecidos mandamentos da época. Ao responder que já os guardava desde a sua mocidade, Jesus diz ao jovem:

“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me; E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.” (Mt, 19:21-22)

2. Zaqueu

Outra passagem relacionada à riqueza é a de Jesus com Zaqueu, responsável pela coleta de impostos em Jericó, um homem rico. Nessa passagem, Jesus chega em Jericó e anuncia que desejaria se hospedar na casa de Zaqueu, que havia subido em uma árvore para conseguir ver o Mestre em meio à multidão. A multidão espantou-se por Jesus querer se hospedar junto de um homem de posses. Ao descer da árvore, Zaqueu segue sua conversa com Jesus:

“E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” (Lc, 19:8-10)

A diferença entre as duas passagens

Ao analisarmos as duas passagens, observamos que Jesus adota posturas extremamente diferentes com Zaqueu e o jovem rico. No caso do jovem, Jesus afirma que ele deveria vender tudo que tinha e seguir o Mestre, enquanto que para Zaqueu, em nenhum momento Jesus enunciou a necessidade da venda de todas as posses para segui-lo.

No entanto, observamos posturas também diferentes relacionadas ao jovem e a Zaqueu. Zaqueu era um homem que já tinha dentro de seu coração a necessidade de retribuir e utilizar de forma correta suas riquezas, fato que se evidencia em sua resposta à Jesus. Enquanto isso, o jovem se demonstra inflexível em relação ao desapego de seus bens materiais em prol de um bem maior.

Nesses dois exemplos, observamos duas pessoas igualmente ricas, uma avarenta e outra não. De um lado, uma pessoa que não conseguia colocar os valores morais acima da riqueza, e do outro uma pessoa já ligada às questões espirituais.

Dessa forma, a afirmação de que a riqueza em si não é um problema, mas sim a avareza se comprova e reforça.

Riqueza como elemento de progresso

Podemos complementar mais ainda a ideia de que a riqueza não é um problema afirmando que ela é, em verdade, um elemento de progresso. Novamente, essa afirmação pode causar estranheza, porém podemos recorrer ao Evangelho Segundo o Espiritismo para melhores orientações:

“Se (a riqueza) não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual” – Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, item 7

Podemos recordar, com essa citação, que nossa missão como Espíritos encarnados é trabalhar para nossa própria evolução, mas também, contribuir com o desenvolvimento de nosso planeta. Dessa forma, as melhorias tecnológicas, ambientais, sociais e em tantas outras áreas também são nossa responsabilidade.

Para melhorarmos as condições de vida no planeta, devemos investir em tecnologias e pesquisas, observando-se a necessidade de recursos para o financiamento material de projetos como esses. Novamente, podemos recorrer ao Evangelho:

“Mas para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade fê-lo criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência” – Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, item 7

Podemos entender mais na prática essa afirmação, pensando em tecnologias como as vacinas, muito comentadas nessa pandemia. A necessidade fez com que pesquisas se iniciassem e descobertas fossem feitas nessa área, porém para que esses estudos ocorressem, foi necessário também investimentos em análises, materiais e profissionais.

Dessa forma, essas necessidades ampliam e desenvolvem nossa inteligência como humanidade. Essa inteligência pode ser desenvolvida por meio da riqueza e nos ajudar na compreensão das grandes verdades morais. Em outras palavras, a riqueza, se bem aplicada, pode servir como “poderoso elemento de progresso intelectual”. Por fim:

“Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não mais grandes trabalhos, nem atividade, nem estimulante, nem pesquisas. Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento de progresso” – Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, item 7

A riqueza e a avareza

Com alguns conceitos já estabelecidos sobre a riqueza como elemento de progresso e a avareza como sendo um apego demasiado pelos bens materiais, faz-se necessário uma diferenciação entre o possuidor de riquezas que destina bem os recursos daquele que é avarento.

Para isso, basta entendermos que devemos dar utilidade providencial à riqueza, visto que somos apenas usufrutuários dos recursos divinos. Em outras palavras, os recursos não nos pertencem e devem ser aplicados como elementos de progresso, como nos afirma Emmanuel:

“Não basta saber pedir, nem basta a habilidade e a eficiência em conquistar. É preciso adquirir no clima do Cristo, espalhando os benefícios da posse temporária, para que a própria existência não constitua obstáculo à paz e à alegria dos outros.” – Emmanuel, Vinha de Luz, Cap. 52

Ainda, podemos compreender que a avareza se torna uma âncora em nosso progresso, impedindo que destinemos as riquezas para o crescimento da sociedade. Nesse sentido, o progresso efetivo do possuidor de riquezas se dá pela boa destinação das mesmas:

“O dinheiro não significa um mal. […] O homem não  pode ser condenado pelas suas expressões financeiras, mas, sim, pelo mau uso de semelhantes recursos materiais, porquanto é pela obsessão da posse que o orgulho e a ociosidade, dois fantasmas do infortúnio humano, se instalam nas almas, compelindo­-as a desvios da luz eterna.” – Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, Cap. 57.

Aplicando esses “empréstimos divinos” objetivando o progresso coletivo, por meio de investimentos em educação, desenvolvimento de recursos tecnológicos ou mesmo pela geração de empregos, trazendo a dignidade aos empregados, que precisam do recurso nesse mundo material, a riqueza estará sendo empregada em consonância com as Leis Divinas:

“Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem.” – Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, item 7

Como podemos nos preservar da Avareza?

Enfim, entendendo que a avareza é elemento que atrapalha o progresso dos seres, devemos tentar sempre nos preservar de tal sentimento.

Ao trabalharmos em prol de algum serviço social, nos dedicar à algum grupo, entre outras atividades, estamos nos preservando dessa avareza. Isto é, ao ajudarmos o tanto quanto for possível, seja com recursos financeiros ou mesmo com recursos de ordem de trabalho/atividade, aproveitando as oportunidades de sermos úteis, estamos colocando os momentos bons de nossa vida acima de qualquer bem material, agindo de forma contrária à avareza.

Ao entendermos, enfim, que necessitamos da matéria para nosso progresso moral, devemos sempre procurar o equilíbrio, evitando a avareza e sendo previdentes com nossos recursos, estaremos caminhando para a nossa evolução como seres imortais.

Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Referências Bibliográficas:

  1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro, 131a edição, 2013. Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon), item 7.
  2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro, 93a edição, 2013. Questões 616 e 814
  3. Xavier, Francisco Cândido, Vinha de Luz, Capítulo 52 (Avareza). Pelo Espírito Emmanuel
  4. Xavier, Francisco Cândido, Caminho, Verdade e Vida, Capítulo 57 (Dinheiro). Pelo Espírito Emmanuel
  5. Evangelhos de Mateus e de Lucas

* Colaborou para esta publicação: Alberto Luz

Categorias: Notícias

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