Seja feita a vossa vontade” foi tema de palestra proferida nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, com reflexões de Luiz Mello. Essa frase logo nos remete a oração dominical, a única ensinada mais diretamente por Jesus e presente em Mateus 6:9-13.

No capítulo 28 do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec apresenta a Coletânea de Preces Espíritas. Nela, temos em primeiro lugar e, como símbolo de todas as outras preces, a oração dominical. A perfeita concisão de cada frase do “Pai Nosso” nos mostra de forma singela e profunda todos nossos deveres para com Deus, consigo mesmo e o próximo.

Contudo, justamente pela concisão e brevidade, muitas vezes seu sublime sentido escapa a maioria. A introdução desse capítulo traz que os Espíritos não recomendam que as as preces sejam fórmulas específicas ou palavras decoradas. O que se nos apresenta são sugestões de ideias e palavras, mas a verdadeira prece deve brotar do coração, do sentimento de nos elevar a Deus.

Os ensinamentos de Jesus

O ensinamento de Jesus para esta prece é que não basta dizer as palavras para que a graça divina esteja presente. No entanto, a beleza das palavras, a profunda intenção nos traz conexão e nos mostra intensa sabedoria em cada uma das suas expressões.

E quando Jesus apresenta uma maneira de buscar a conexão com a fonte Divina, ensina a orar começando com a palavra “Pai”. Assim, refere-se amorosamente à Inteligência Suprema do Universo como Pai, não dirigindo a nosso Deus e Criador o título de Rei ou algo distante.

O “Pai Nosso” nos convida a nos aproximarmos de Deus, ao entendê-lO como Pai. E “nosso” pois Ele é a fonte de todas as criaturas que existem.

A prece nos ensina a entrar no estado de consciência interna, dita e sentida dentro do nosso ser, como o próprio Jesus diz:

Tu, porém, quando orares, vai para teu quarto e, após ter fechado a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
— Novo Testamento, Mateus 6:6.

A vontade e nossos desejos

Qual o sentido mais profundo da expressão “Seja feita a tua vontade”?

Como descreve Emmanuel:

Nosso Pai, que estás em toda parte; Santificado seja o teu nome, no louvor de todas as criaturas; Venha a nós o teu reino de amor e sabedoria; Seja feita a tua vontade, acima dos nossos desejos; Tanto na terra, quanto nos círculos espirituais […]
Versão de Emmanuel, em mensagem recebida por Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, em 17/07/1948.

A palavra vontade nos remete a duas formas diferentes de vivenciar esta vontade.

A vivência de uma criatura em conexão com a vontade Divina e não com os pequenos desejos do “eu”.

A Vontade que é a ligação com o Superior, que mantém o Universo na plenitude de harmonia e equilíbrio, vai além do pessoal, do individual. Ela está conectada com a beleza, com o bem coletivo e que foi traduzida por Kardec como as Leis Universais. Já as vontades pessoais, são os nossos desejos.

Quando Jesus nos ensina a nos conectar com o Pai Celeste e a pedir “Seja Feita a Tua Vontade”, está mostrando que nós temos no nosso sistema psíquico/espiritual, vontades pessoais que podem estar em perfeita harmonia, ou não, com a Vontade Celestial.

Nós podemos nos abrir para brotar na nossa consciência, escolhas e decisões que direciona nossa vida sempre focada no melhor. Voltada para o Bem, para o Belo e para a Verdade.

A transformação de Zaqueu

Nos encontros que Jesus teve, alguns foram de grande transformação.

Um deles foi Zaqueu, que entrou em contato com o Jardineiro Divino em Jericó. A partir desse encontro, conseguiu entrar em um processo de grande mudança para ir em direção a um novo estágio de ser. Jesus anunciava que o Reino de Deus não vinha com aparências exteriores, estava dentro de cada um.

E o ponto principal de Zaqueu, o que diferenciou este processo que chamamos de reforma íntima, foi a vontade.

Antes de Jesus, Zaqueu se relacionava com a vontade do ego, vontade pessoal, desconectado. Como se fosse uma onda que se percebia somente como onda e não fazendo parte do oceano.

Ele era muito rico, chefe dos publicanos, sendo odiado pelo povo judeu, porque os publicanos cobravam impostos do próprio povo para o Império Romano. Mas ele não se considerava um homem ruim, procurava agir com justiça, dava trabalho para as pessoas mais pobres e tratava bem seus empregados. Porém, não era feliz e estava em busca de algo que lhe faltava.

Quando Zaqueu soube que Jesus passaria por Jericó tentou ir vê-lo. Entretanto não conseguia, pois era de baixa estatura e era grande a multidão. Então subiu numa árvore a fim de vê-lo. De acordo com as escrituras, Jesus chegou aquele lugar, olhou para cima e disse:

Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa”.
— Novo Testamento, Lucas 19:5.

E quando Zaqueu retorna para casa, foi fazendo um processo de interiorização e percebe que, mesmo quando tentava ajudar alguém a pagar os impostos comprando suas terras, ainda assim estava se prevalecendo. Então decide doar metade de suas riquezas aos pobres e se tivesse roubado alguma coisa de alguém, iria restituir quatro vezes mais.

Zaqueu fez a mudança na vida material mas também se envolve com o Evangelho do Cristo, sendo chamado de 13º Apóstolo, o discípulo escolhido para ocupar o lugar que Judas Iscariotes. Naquela época, trocava-se o nome para representar esta transformação, então ele adota o nome de Matias.

A sua transformação

Esta transformação não está distante, pode começar a partir de uma oração, leitura…

Precisamos fazer o processo de interiorização para encontrar onde está a Vontade Divina e onde está a vontade do eu. O desejo de que a vida não esteja voltada somente para as nossas vontades, mas que esteja em harmonia com o equilíbrio do Universo.

Seja feita a vossa vontade

Para nossa elevação espiritual, portanto, é necessário procurarmos a Vontade do Senhor. Com isso, estaremos cooperando não só com nosso progresso individual, mas também com o coletivo.

Sabemos que o bem para todos é o projeto da Eterna Sabedoria para as criaturas. Por isso mesmo, se prezamos a condição de trabalhadores educados para a prestação justa de serviço, é indispensável saibamos realizar a nossa parte, na concretização do Projeto Divino.

Ao oferecer a cada dia o melhor que podemos, estaremos indiscutivelmente atendendo às determinações do Nosso Pai Celestial.

Segundo o livro Pai Nosso, ditado pelo Espírito Meimei, podemos discernir a Vontade de Deus, em todas as situações: 

No sofrimento, é a Paciência.
Na perturbação, é a Serenidade.
Diante da maldade, é o Bem que auxilia sempre.
Perante as sombras, é a Luz.
No trabalho, é o devotamento ao Dever.
Na amargura, é a Esperança.
No erro, é a Corrigenda.
Na queda, é o Reerguimento.
Na luta, é o Valor Moral.
Na tentação, é a Resistência.
Junto à discórdia, é a Harmonia.
À frente do ódio, é o Amor.
No ruído da maledicência, é o Silêncio.
Na ofensa, é o Perdão Completo.
Na vida comum, é a Bondade em favor de todos.
* Quem ajuda sem cessar, cada hora, todo o dia, está cumprindo a Vontade da Eterna Sabedoria.
— Pai nosso, capítulo 20, “Reflexões”.

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.

**Imagem em destaque via Pexels.com

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