Em palestra transmitida virtualmente no canal do Youtube da Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Julia Fertig nos trouxe o tema da obra Paulo e Estevão, psicografia de Francisco Cândido Xavier pelo espírito de Emmanuel.
“…Para que o exemplo do Grande Convertido se faça mais claro em nossos corações, a fim de que cada discípulo possa entender quanto lhe compete trabalhar e sofrer, por amor a Jesus.”
— Paulo e Estevão, Breve Notícia. por Emmanuel, psicografia de Francisco Candido Xavier.
A obra Paulo e Estevão
A obra Paulo e Estevão trata como tema central o processo de transformação moral de Saulo de Tarso, devotado rabino e ardoroso defensor de Moisés que desencadeou séria perseguição aos cristãos. Mais tarde, se transformaria no Apóstolo dos Gentios, levando a mensagem de Jesus para todos os povos.
A narrativa se divide em duas partes e conta com diversos personagens, entre eles: Jesus, Saulo/Paulo, Estevão, Abigail, Jochedeb, Pedro, Tiago, Gamaliel, Ananias e diversos outros. Na primeira parte, o leitor é convidado a refletir sobre os momentos de perseguição ao Cristo, seu evangelho e discípulos. Enquanto que na segunda parte, o leitor se debruça em momentos de redenção de Saulo ao amor de Cristo.
Diversos aprendizados podem ser retirados desta obra tão esplendorosa, mas iremos nos aprofundar sobre cinco lições que estes personagens nos ensinam.
Lição 1: Lágrimas e sacrifícios
No segundo capítulo do livro Paulo e Estevão, Abigail, seu irmão Jeziel (que viria mais tarde a adotar o nome Estevão) e seu pai Jochedeb, se encontram presos. Neste momento, nos ensinam uma lição muito importante de como passar por momentos de testemunho e servir com alegria.
Sempre desejei fazer algum bem, sem jamais o conseguir. Sempre que me surge uma oportunidade de abrir as mãos, tenho-as pobres e vazias. Então, agora, penso que foi útil a nossa prisão. Não será uma felicidade, neste mundo, podermos sofrer alguma coisa por amor de Deus? Quem nada tem, ainda possui o coração para dar. E estou convicta de que o Céu nos abençoará pela nossa resolução em servi-lo com alegria.
— Abigail, no livro Paulo e Estevão.
A personagem Abigail nos ensina que o cumprimento do dever retamente e com alegria no coração é a nossa maior prova de amor e fidelidade à Deus. Que sempre podemos oferecer o melhor de nós, por mais que a situação seja difícil.
A criatura convicta da paternidade divina anda, no mundo, fortalecida e feliz.
— Mãe de Abigail e Jeziel (Estevão).
Então, se servirmos com alegria, cumprirmos o nosso dever sem reclamações e oferecermos sempre o melhor de nós, estaremos à caminho do Evangelho de Jesus.
Lição 2: Cumprir os Deveres
No quinto capítulo, intitulado “A pregação de Estevão”, a obra nos faz refletir se estamos cumprindo os deveres que assumimos antes de estarmos encarnados neste planeta. Saulo de Tarso perseguia os Cristãos com fervor, estava determinado a honrar as leis mosaicas a todo custo, mas acabou se esquecendo do real objetivo que o trouxe à Terra. Emmanuel nos esclarece que, por muito tempo, Saulo deixou que o orgulho e a vaidade falassem mais alto que o seu dever de contribuir com a Boa Nova, olvidando seu real dever com Jesus e com ele mesmo.
Estevão, no momento que conheceu o Mestre Nazareno, abriu seu coração para as verdades de amor e caridade e dedicou sua encarnação à divulgação e propagação da Boa Nova, sem nunca esquecer dos seus irmãos de jornada que ainda não conheciam e aceitavam o Cristo.
Amados, onde andarão aquelas ovelhas que não souberam ou não puderam esperar? Procuremo-las para o Cristo, como dracmas perdidas do seu desvelado amor! Anunciemos a todos os desesperançados as glórias e os júbilos do seu reino de paz e de amor imortal!… A Lei nos retinha no espírito de nação, sem conseguir apagar de nossa alma o desejo humano de supremacia na Terra […] Seu reino é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de Deus. […] Em sua glória os justos encontrarão a coroa do triunfo. Os infortunados o consolo, os tristes a fortaleza do bom ânimo, os pecadores a senda redentora dos resgates misericordiosos.
— Estevão, no livro Paulo e Estevão.
A segunda reflexão que esta obra nos traz é a do nosso comprometimento com o Evangelho e com o bem. Nós, como espíritos imortais, conhecedores do Cristo, estamos comprometidos com os nossos deveres para com o próximo? Será que deixamos a matéria e as coisas mundanas, como o orgulho, egoísmo, rancor e mágoa, sufocarem a missão para que viemos? A pátria do evangelho está em nossos corações, não nos esqueçamos disso.
Lição 3: A quem servimos?
Um dos capítulos mais marcantes e populares deste livro é o de número oito, no qual ocorre a morte de Estevão pelas mãos de Saulo. Saulo, que era o amor da vida de Abigail, perseguiu Estevão determinadamente, pois não aceitava o modo como ele pregava o evangelho em nome do Cristo, com dedicação, coragem e firmeza.
Saulo não sabia, até então, que Estevão era na verdade Jeziel, o irmão amado de sua noiva Abigail, descobrindo apenas no instante em que Estevão estava desencarnando após ser apedrejado publicamente por Saulo. É neste trecho do livro, que vivenciamos um dos maiores exemplos de Estevão para a humanidade:
Aquela tranqüilidade de Estevão, no entanto, não deixava de o impressionar bem no imo do coração voluntarioso e inflexível. Dedicados amigos, do plano espiritual, rodeavam o mártir nos seus minutos supremos. No caminho de luz desdobrado à sua frente, reconheceu que alguém se aproximava abrindo-lhe os braços generosos. Percebeu que contemplava o próprio Mestre em toda a resplendência de suas glórias divinas. Nesse instante, vendo que Jesus contemplava, melancolicamente, a figura do doutor de Tarso, como a lamentar seus condenáveis desvios, Estevão experimentou por Saulo sincera amizade no coração. Ele conhecia o Cristo e Saulo não.
— da obra Paulo e Estevão.
Estevão já tinha Jesus em seu coração, Saulo ainda não. Estevão já tinha seu coração sensibilizado para as verdades da Boa Nova e testemunhou no derradeiro instante o amor àquele que o tinha tirado a vida do corpo físico. Ele não precisou perdoar Saulo, pois não se ofendeu.
Não tenho no teu noivo um inimigo, tenho um irmão… Saulo deve ser bom e generoso; defendeu Moisés até ao fim… Quando conhecer a Jesus, servi-lo-á com o mesmo fervor… Sê para ele a companheira amorosa e fiel…
— Estevão, na obra Paulo e Estevão.
Emmanuel comenta a respeito do acontecimento:
A compaixão de Estevão, fruto de uma paz que ele, Saulo, jamais conhecera no fastígio das posições mundanas, impressionava-o fundamente. Entretanto, sem saber por quê, a resignação e a doçura do agonizante assaltavam-lhe o coração enrijecido. Trabalhava, porém, intimamente, para não se comover com a cena dolorosa. Não se dobraria por uma questão de sentimentalismo. Abominaria aquele Cristo, que parecia requisitá-lo em toda parte, a ponto de colocar-se entre ele e a mulher adorada.
— da obra Paulo e Estevão.
Percebemos que, mesmo não aceitando a Cristo, Saulo teve o seu coração sensibilizado pelo testemunho de Estevão. Assim somos nós, durante toda nossa vida vivenciamos situações que nos sensibilizam o coração para o Evangelho de Jesus, mas nem sempre abrimos nossos corações para adentrar no caminho com Jesus. Precisamos do mesmo vigor para o bem que Estevão nos mostrou neste capítulo, para que caminhemos, de uma vez por todas, com Jesus, por Jesus e para Jesus.
Lição 4: Remorso ou Soerguimento?
Talvez o capítulo 10 seja o mais conhecido de toda a obra, materializando o momento em que Saulo conhece Jesus no deserto de Damasco e se coloca, eternamente, como servo do Mestre. O diálogo, apesar de breve, é de muito aprendizado e reflexão:
– Saulo!… Saulo!… por que me persegues?
O moço tarsense não sabia que estava instintivamente de joelhos. Sem poder definir o que se passava, comprimiu o coração numa atitude desesperada. Incoercível sentimento de veneração apossou-se inteiramente dele. Que significava aquilo? Saulo interrogava em voz trêmula e receosa: – Quem sois vós, Senhor?
– Eu sou Jesus a quem persegues!…
Experimentou invencível vergonha do seu passado cruel. Uma torrente de lágrimas impetuosas lavava-lhe o coração. Foi quando notou que Jesus se aproximava e, contemplando-o carinhosamente, disse: – Não recalcitres contra os aguilhões!…
Saulo compreendeu. Desde o primeiro encontro com Estevão, forças profundas o compeliam a cada momento, e em qualquer parte, à meditação dos novos ensinamentos. O Cristo chamara-o por todos os meios e de todos os modos.
Saulo nos ensina que não devemos nos valer dos nossos passados de erros extensos, não avançaremos se ficarmos presos ao passado. Precisamos confiar na bondade Divina e seguir adiante, na certeza de que Jesus nos convida, a todos os instantes, a caminhar com ele. É necessário refazer nossos sentimentos mais íntimos, renovar nossa disposição ao bem e cumprir nosso dever.
Ele, Saulo, era a ovelha perdida. Jesus era o Pastor amigo que se dignava fechar os olhos para os espinheiros ingratos, a fim de salvá-lo carinhosamente. Ali mesmo, fez o protesto de entregar-se a Jesus para sempre. – Senhor, que quereis que eu faça?
Levanta-te, Saulo! Entra na cidade e lá te será dito o que te convém fazer!..
O momento atual é de escolha, iremos continuar negando a Cristo ou já estamos prontos para caminhar de mãos dadas com ele? Estamos prontos para nos colocarmos à disposição de Jesus da Galileia e servimos fielmente?
Lição 5: Quem são meus irmãos
Após a conversão de Saulo, inicia-se a segunda parte da obra. No capítulo 3 da segunda parte, Emmanuel nos elucida a respeito das lutas e perseguições que Saulo (agora chamado Paulo) sofreu após seu convertimento ao Cristianismo.
A fim de clarear os pensamentos antes de iniciar sua jornada junto ao povo, Paulo de Tarso vai até o deserto para elucidar os pensamentos. Neste momento, Abigail e Estevão, já desencarnados, fazem uma visita para ele.
– Que é isso? Choras? – perguntou Abigail em tom carinhoso – Estarias desalentado quando a tarefa apenas começa?
Saulo, não te detenhas no passado! Quem haverá, no mundo, isento de erros? Só Jesus foi puro!… – disse Estevão.
É necessário esforço contínuo na tarefa do bem, assim como Jesus tem compaixão de todos nós, nós também devemos ter compaixão para com os erros e equívocos daqueles que cruzam nosso caminho. Jesus é misericordioso e bom, sempre nos disponibilizará os recursos de que necessitamos para continuar a tarefa de redenção.
A Lei nos destacava a fé, pela riqueza das dádivas materiais nos sacrifícios; mas o Evangelho nos conhece pela confiança inesgotável e pela fé ativa ao serviço do Todo-Poderoso. É preciso ser fiel a Deus, Saulo! Ainda que o mundo inteiro se voltasse contra ti, possuirias o tesouro inesgotável do coração fiel. A paz triunfante do Cristo é a da alma laboriosa, que obedece e confia… Não tornes a recalcitrar contra os aguilhões. Esvazia-te dos pensamentos do mundo. Quando hajas esgotado a derradeira gota dos enganos terrenos, Jesus encherá teu espírito de claridades imortais!…
— Abigail no livro Paulo e Estevão.
Que possamos nos juntar à Paulo, Abigail e Estevão e abrir nossos corações, definitivamente, ao nosso divino amigo Jesus.
“Choremos de alegria meus irmãos não há maior glória neste mundo do que estar o homem a caminho de Cristo”
— Paulo de Tarso.
Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
* Colaborou para esta publicação: Julia Fertig.
** Imagem em destaque via Wikimedia Commons. Tela de Rembrandt “A lapidação de São Estevão”.