Por que pensais mal em vossos corações?

Nosso pensamento cria a vida que procuramos, através do reflexo de nós mesmos, até que nos identifiquemos, um dia, no curso dos milênios, com a Sabedoria Infinita e com o Infinito Amor.

Em palestra transmitida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a trabalhadora Daniela Galdino nos traz as seguintes reflexões:

  • Será que a maneira que nós pensamos pode influenciar a nossa forma de viver?
  • Será que o pensamento tem esse poder todo de influenciar a forma que a gente vive?

São perguntas muito intrigantes, que partem de uma reflexão maior a partir da passagem sobre a cura de um paralítico, encontrada no evangelho de Mateus:

Entrando no barco, atravessou {o lago} e foi para sua própria cidade. Eis que traziam a ele um paralítico, deitado sobre um leito. E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Anima-te, filho, os teus pecados estão perdoados. Eis que alguns dos escribas disseram entre si: Ele blasfema! E Jesus, vendo as reflexões deles, disse: Por qual razão refletis coisas más em vossos corações?
— Mateus 9:1-4 (tradução de Haroldo Dutra Dias).

“Percebam que Jesus não estava prestando atenção ao que foi falado. Ele chama atenção para o que tinha no coração daqueles escribas. Antes de eu falar vem uma atitude, vem pensamento, e vem sentimento,” ressalta a expositora Daniela.

Pensar mal

Reflitamos, portanto, por que pensar mal? Por que sentir este mal no coração? E a resposta cada um de nós precisamos analisar, o por quê.

De onde vem esta disposição de achar que os outros têm tantas coisas desagradáveis? E como é em nós?

No prefácio do livro Pensamento e Vida, o espírito Emmanuel pela psicografia de Francisco Candido Xavier, nos traz a seguinte revelação:

(…) o nosso pensamento cria a vida que procuramos, através do reflexo de nós mesmos, até que nos identifiquemos, um dia, no curso dos milênios, com a Sabedoria Infinita e com o Infinito Amor, que constituem o Pensamento e a Vida de Nosso Pai.
— do livro Pensamento e Vida, prefácio.

Pensamento e Vontade

Mais adiante, Emmanuel entra em detalhes e nos mostra uma comparação interessante, entre a mente humana e um escritório, para ilustrar as várias funções cumpridas por nossa mente.

Comparemos a mente humana — espelho vivo da consciência lúcida — a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço.
Aí possuímos o Departamento do Desejo, em que operam os propósitos e as aspirações, acalentando o estímulo ao trabalho;
o Departamento da Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e da cultura;
o Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do ideal e da sensibilidade;
o Departamento da Memória, arquivando as súmulas da experiência, e outros, ainda, que definem os investimentos da alma.
Acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade.
A Vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental.
— do livro Pensamento e Vida, capítulo 2.

Quantos de nós já olhamos para estes departamentos e já analisamos mesmo que superficialmente?

Voltemos o nosso olhar para sentir com muito cuidado, observando os nossos pensamentos. Nesse envolvimento vamos perceber quanto de Evangelho estamos pondo em prática através de nossas ações.

Adiante no mesmo livro Emmanuel nos diz:

O cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a capacidade de reflexão que lhe é própria; no entanto, na Vontade temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os problemas do destino.
Sem ela, o Desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de reparação e sofrimento, a Inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade, a Imaginação pode gerar perigosos monstros na sombra, e a Memória, não obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a Natureza lhe assinala, pode cair em deplorável relaxamento.
Só a Vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do espírito.
Em verdade, ela não consegue impedir a reflexão mental, quando se trate da conexão entre os semelhantes, porque a sintonia constitui lei inderrogável, mas pode impor o jugo da disciplina sobre os elementos que administra, de modo a mantê-los coesos na corrente do bem.
— do livro Pensamento e Vida, capítulo 2.

Pensar com amor

No capítulo 4 desse mesmo livro, Emmanuel nos convida a pensar com amor e sabedoria: 

Já se disse que duas asas conduzirão o Espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo-a para o Alto.
— do livro Pensamento e Vida, capítulo 4.

A partir deste entedimento vamos perceber a necessidade de cuidar de nós, dos nossos pensamentos enquantos filhos de Deus que somos. Estamos na escola do Evangelho para ter atitudes no bem. É o conjunto de todas as criaturas que reconhecem-se fiéis aos ensinamentos de Jesus que será implantado o Reino de Deus na Terra. 

Pensar e falar

O apóstolo Pedro nos alerta sobre a conexão entre o mal pensar e o mal falar.

Porque quem quer amar a vida, E ver os dias bons, Refreie a sua língua do mal, E os seus lábios não falem engano.
— 1 Pedro 3:10.

Além dessa passagem, o alerta vem também de outros trechos do Antigo Testamento e do Novo Testamento.

Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem o engano.
— Salmos 34:13

Senhor, livra a minha alma dos lábios mentirosos e da língua enganadora.
— Salmos 120:2

A boca do justo fala a sabedoria; a sua língua fala do juízo.
— Salmos 37:30

Linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós.
— Tito 2:8

Abre a sua boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua língua.
— Provérbios 31:26

A boca do justo jorra sabedoria, mas a língua da perversidade será cortada.
— Provérbios 10:31

A língua benigna é árvore de vida, mas a perversidade nela deprime o espírito.
— Provérbios 15:4

Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar.
— 1 Coríntios 14:13

E assim a minha língua falará da tua justiça e do teu louvor todo o dia.
— Salmos 35:28

Não falarão os meus lábios iniqüidade, nem a minha língua pronunciará engano.
— Jó 27:4

A ele clamei com a minha boca, e ele foi exaltado pela minha língua.
— Salmos 66:17

E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
Filipenses 2:11

Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.
— 1 João 3:18

E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus.
— Lucas 1:64

O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias.
— Provérbios 21:23

Observando todas estas manifestações sobre a forma de concretizar o pensamento através da palavra percebemos que desde sempre houve este cuidado para vitória do homem na sua evolução, em direção à perfeição.

Como nos ensina Emmanuel no livro Vinha de Luz, por Francisco Candido Xavier: 

Cada frase do discípulo do Evangelho deve ter lugar digno e adequado.
— do livro Vinha de luz, capítulo 73.

Há muito que nosso pensamento, nossa prece, nossa voz podem fazer se estivermos focados no amor. É o que nos ensina o poema a seguir, de Maria Dolores.

Busquei o campo, a fim de meditar
Nas provações da Terra, em vastas crises…
Como sanar a dor das almas infelizes?
Como estender a fé ao pranto do pesar?

Encerrada em mim mesma, ali, à sós,
Fitei o Céu imenso, a esmaltar-se de luz,
E surpreendi-me, orando em alta voz,
Perguntando a Jesus:

Mestre e Senhor!…
Já que nos enviaste ao mundo desatento,
Para falar do amor
E proclamar-te o ensinamento
Nos alicerces da esperança,
O que dizer aos homens nesta hora
De amarga transição?

O sofrimento avança
E enquanto as luzes do progresso
Tomam novos lauréis nas grimpas onde estão,
Vemos a multidão que se excrucia e chora
Nos mais remotos ângulos da vida…

O que dizer, Senhor, à mágoa indefinida
Das mães que perdem filhos bem-amados
Que apenas começavam a viver?!…

Filhos de primavera e juventude,
Que recolhem nos braços desolados,
Quais lírios em botão,
Que a morte decepou, antes da floração?

Que dizer aos que fogem
Para os domínios da aventura
E caem, sem pensar, nas tramas da loucura,
Superlotando sanatórios
Que lhes apaguem a alucinação?

Que ensinar aos irmãos acidentados,
Que despertam, depois da anestesia,
Para saber que foram mutilados,
Com mais problemas para cada dia?

De que modo afastar o desconforto
Da mulher que carrega um, filho nascituro,
Ante o marido morto,
Imaginando as dores do futuro?

O que dizer, Jesus, aos que vagam na estrada,
Muitas vezes com febre, frio e fome,
Sem apoio e sem lar na caminhada
De aflição que os consome?

Como extirpar a desesperação
Daquele que organiza a própria despedida,
No intuito de fugir ao fel da própria obrigação
E fazer-se suicida?

Como extinguir na Terra a violência e a penúri
Dos conflitos do ódio sempre em fúria,
A fim de apedrejar e destrui
Tudo o que mostre o bem, nas asas do porvir?

Confesso que chorei, mas mergulhada em pranto,
Escutei, de repente,
Um celeste mentor que, em silêncio, me ouvia,
A me dizer, fraternalmente:

— Irmã, a dor no mundo é o preço da alegria,
Sofrimento é recurso amargo e santo
Preparando, na Terra, os dias que virão…

Bendita seja a luz da provação!
Se desejas servir ao Cristo que nos chama,
Nada reclames… Segue, serve e ama!

Nisso, ouvi alguém gemendo, em voz dorida e mansa…
Larguei-me da emoção,
Indagando a mim própria quem seria…

Atravessei, à pressa, alguns trechos de chão
E encontrei, dentro da noite fria,
Paupérrima choupana…

Lá dentro, um quadro de ternura humana:
Pobre mulher, em pranto, procurava
Podar a dor de frágil pequenina,
Que doença fatal, aos poucos, destruía,
Por falta de agasalho…

Coloquei-me em trabalho,
E envolvendo-a de todo,
Fiz-me calor e paz, apoio e segurança…
E, em oração, no estreito bosque escuro,
Compreendi que amparar a uma criança
É também cooperar nas bases do futuro.
— “Petição e Resposta”, por Maria Dolores, no livro Alma e Vida, psicografia de Francisco Candido Xavier.

E com as imagens deste belo poema, rogamos a Jesus: muitas bençãos a você que leu este texto. Muita saúde e paz!

Acompanhe na íntegra a palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Ilani Nunes.
**Imagem em destaque: via pexels.com.

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