Porque sofremos?
Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Elisa Flemming Luz iniciou com uma reflexão sobre a destinação da Terra e as causas das misérias humanas. Por que sofremos? Que resposta cada um de nós daria para essa pergunta?
São respostas individuais e diferentes. Talvez seja mais fácil respondermos o motivo pelo qual sofremos, ao invés de respondermos o motivo pelo qual somos felizes. Isso, porque atualmente vivemos num mundo de provas e expiações, em que o sofrimento faz parte do dia a dia e da nossa convivência. Mas é preciso que cada um se atenha ao fato de que o sofrimento não é eterno. Ele precisa ser coerente com o que vivemos e o que objetivamos com essa jornada.
Muitas moradas
Esse tema é abordado em várias obras da doutrina espírita. Mas, nesse momento o foco será sobre o que trata o capítulo III do Evangelho Segundo o Espiritismo. O mesmo trata dos assuntos relacionados à destinação da Terra e às causas das misérias humanas.
Afinal, que relação existe entre o ensinamento de Jesus nesse capítulo III, indicando que há muitas moradas na casa de meu Pai, e o sofrimento que vivemos aqui na Terra?
Diante de tanto sofrimento que por tantas vezes é explicado a partir de causas anteriores (reencarnação), ou mesmo causas atuais, qual o destino da Terra?
Para abordar esse tema, precisamos falar sobre autoconhecimento, lei de causa e efeito, pluralidade das existências, pluralidade dos mundos habitados.
Onde estamos?
A Terra é um planeta de provas e expiações, na escala evolutiva.
No item 15 desse mesmo capítulo III, Santo Agostinho aborda sobre mundos de expiações e provas e reforça que:
A Terra fornece, pois, um dos tipos de mundos expiatórios, cujas variedades são infinitas, mas que têm por caráter comum servir de lugar de exílio aos Espíritos rebeldes à lei de Deus. Aí esses Espíritos têm que lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e contra a inclemência da Natureza, duplo e penoso trabalho que desenvolve, a uma só vez, as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz reverter o próprio castigo em proveito do progresso do Espírito.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo III, item 15.
É fato que a criação de Deus não se limita à Terra, esse planeta que possui 200 países, cerca de 8 bilhões de Espíritos encarnados (conforme dados do Banco Mundial) fora os desencarnados… Temos trilhões de galáxias e com planetas habitados. E aqui temos um planeta com características essenciais ao nosso desenvolvimento moral e espiritual.
Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo III, item 6.
Lidando com a dor
Na obra intitulada Caminha que a vida te encontra, a autora Ana Tereza Camasmie apresenta reflexões espirituais para o autodesenvolvimento. Ela aborda as dores da alma e o sofrimento, dizendo que não há nada de errado sentirmos a dor. Precisamos observar esses momentos de uma maneira diferente para aprendermos as lições que ainda não ficaram claras em momentos anteriores de nossas existências.
A vida dói… Às vezes, dói pouco; às vezes, muito. E pensamos: “Será que há um jeito de parar de sentir dor? Será que virá um dia em que a vida já não vai mais doer?” Muitas vezes, ficamos na vida procurando segurança, em uma tentativa de doer menos: emprego seguro, casamento seguro, casa segura, etc., e, quando conseguimos todo tipo de segurança material, a vida continua doendo. A pergunta que fica é: Por que será que a vida ainda está doendo desse jeito?
— CAMASMIE, Ana Tereza. Caminha que a vida te encontra. São Paulo: InterVidas, 2024.
Existem aspectos que nos ajudam a pensar nessa dor, já que muitos de nós assumimos uma postura um pouco diferente diante dela. Quando não concordamos ou não entendemos o que está acontecendo com o nosso planeta, a necessidade desse processo de transformação que caracteriza momentos de crescimento, tomamos atitudes extremas e temos dificuldade de entender o sofrimento ou dor.
Podemos assumir posturas extremas de viver desesperadamente, cometendo excessos e sem tempo para reflexões e interações com nossos companheiros de jornada. Ou mesmo vivermos anestesiados para fugir dessa dor, nos blindando inclusive para a felicidade e para o crescimento.
Quantos de nós começamos a encarar as dores da vida, sejam provenientes de provas ou expiações, com coragem, fé, resignação e paciência? Virtudes que promovem superação e evolução.
Estar consciente
Lembrando: “A Terra (…) têm por caráter comum servir de lugar de exílio aos Espíritos rebeldes à lei de Deus.” Nós estamos exilados e, mesmo sem a lembrança, infringimos as leis de Deus.
Deixamos passar o tempo e deixamos para trás muitas coisas que já precisamos fazer. Precisamos estar atentos aos compromissos do mundo, mas o crescimento moral e espiritual deve estar caminhando concomitante a esses compromissos materiais.
Não há mais como separar momentos…
A inércia não é só o fato de ficarmos parados. É preciso observar que a inércia nos paralisa quando consideramos a jornada de crescimento espiritual.
Hora de mudança
O que mais sofremos no mundo:
[…] o pior problema é a carga de aflição que criamos, desenvolvemos e sustentamos contra nós.
— Albino Teixeira, Passos da Vida, Capítulo 18.
- Onde conectamos nossos pensamentos?
- Quanto sofremos ou por quanto tempo sofremos?
Importante entender o papel dos nossos pensamentos que realizam conexão. Já não é mais tempo de insistirmos demais nos sofrimentos.
É necessário seguir, mudar a casa mental e a nossa vibração para nos conectarmos com outras sintonias; e modificar um pouco esse ambiente que criamos em torno de nós mesmos. Ambiente esse que reverbera junto ao nosso próximo e à nossa família. Tanto que, não é à toa que tantas vezes os sofrimentos que sentimos também é sentido por aqueles que estão ao nosso redor, porque é algo que se conecta com o outro.
Olhar para si e seguir adiante
Nosso exercício maior é pensar que precisamos olhar para frente entendendo nossas limitações quando encarnados em um planeta de provas e expiações, mas que nos permite infinitas possibildades de mudanças.
E não vamos deixar de procurar onde está o Céu! Como nos responde Emmanuel, o “céu” está
Em toda parte. Nenhum contorno especial lhe traça limites. Os mundos superiores são as últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam. E foi ainda, por essa mesma razão que, prevenindo-nos para compreender as realidades da natureza, no grande porvir, ensinou-nos Jesus, claramente:
“O Reino de Deus está dentro de vós.”
— Emmanuel, O Céu e o Inferno, Justiça Divina, Capítulo 14: O Céu.
Acompanhe também a palestra em áudio:
*Colaborou para esta publicação: Elisa Luz.
** Imagem em destaque: via Pixabay.