Ao ler o versículo 8 do capítulo 18 do evangelho de Mateus, a expositora Fabiana Martins Fertig deu início à palestra transmitida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade.

Se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o para longe de ti. Melhor te é entrar na vida coxo ou aleijado do que tendo duas mãos ou dois pés seres lançado no fogo eterno.
— Mateus 18:8.

Os acontecimentos que antecederam a crucificação de Jesus e as primeiras décadas da era Cristã, ao longo dos séculos, foram adulterados ou perdidos, mas com o advento da Doutrina Espírita, através do intercâmbio da espiritualidade conosco, passamos a ter acesso a informações que existem no mundo espiritual. Em especial, relatos trazidos pelo Espírito de Amélia Rodrigues, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, e pelo Espírito Humberto de Campos, na psicografia de Francisco Candido Xavier.

Jesus e Caifás

As principais fontes da palestra foram a obra Até o Fim dos Tempos, de Amélia Rodrigues, e o capítulo 114 da obra Fonte Viva, de título “Embainha tua espada”. 

A partir do primeiro livro, a palestrante ressalta o momento que antecede a crucificação de Jesus e descreve a figura de Caifás, sumo sacerdote do templo de Jerusalém, considerado a figura máxima. De acordo com Amélia Rodrigues, o sumo sacerdote conduziu todo o processo de Jesus, mas como o povo Judeu na época estava sobre o domínio Romano, não podia fazer o processo por conta própria. Precisava da autoridade Romana máxima da época, que era o Pôncio Pilatos.

E por que Caifás tinha tanta raiva de Jesus? De acordo com Amélia, ele tinha um certo despeito, uma inveja de Jesus, porque o sacerdote tinha autoridade física, terrena mas reconhecia em Jesus a autoridade moral.

O carinho e o amor que a população tinha por Jesus, inclusive com a transformação do fariseu e doutor da lei Nicodemos a partir do contato com Jesus, levou Caifás a sentir seu poder ameaçado. Este encaminhou Jesus até Pôncio Pilatos, quem por sua vez via o povo daquele local como inculto e procurava ficar distante de confusões, uma vez que aproximava-se seu retorno à capital, Roma.

Quando Jesus afirma “Meu Reino não é deste Mundo”, Pôncio Pilatos reconhece nele não um revolucionário, mas um homem do bem. No entanto, o fervor do povo judeu poderia ir contra aos seus interesses pessoais. Ele tenta, dentro da lei da época, dar as chibatadas mas não era suficiente para a população que estava ali. Perguntou então se queriam ver crucificado, Cristo ou Barrabás e as pessoas preferiram Cristo.

Embainha as imperfeições

Antes de ser levado a Pôncio Pilatos, Jesus foi preso. Judas tinha a visão de que Jesus iria dominar a Terra materialmente e o entrega crendo que Jesus não se permitiria ser preso, que seu ato seria o estopim de uma revolução. Quando Judas se aproxima, Jesus pergunta “a que vens amigo?”. Recebe então o beijo de Judas, gesto que assinala aos soldados que aquele era o homem que deveria ser preso.

No momento da prisão, uma confusão se estabelece. Pedro, que está próximo a Jesus e o amava profundamente, tira a espada e corta a orelha de um dos soldados.

Jesus diz a Pedro: “Embainha a tua espada, porque quem com ferro fere, com ferro será ferido.” De acordo com a Revista Reformador de 2014, o que Jesus queria alertar, não somente a Pedro mas a toda a humanidade, era para embainharmos as armas das imperfeições, que cortam tanto quanto a espada utilizada por Pedro. E o que é embainhar? É colocar a espada na proteção que ficava na cintura.

E nós, o que temos a embainhar? Quais nossas imperfeições?

Nosso egoísmo, nossa vaidade, a inveja, o melindre, a agressão verbal, a agressão física, o despeito que fere os semelhantes, mas antes fere muito mais a nós mesmos.

Perdão às agressões

No momento que Jesus estava na cruz, suas últimas palavras foram “Pai perdoa, eles não sabem o que fazem”.

Quando nos sentimos agredidos, devemos recordar estas passagens e compreender que tudo o que nos fazem de ruim, vem de alguém que não sabe o que está fazendo. Não cabe a nós reagir com a mesma agressividade, mas como alguém que está se autoconhecendo, tentando ser uma pessoa melhor. 

Na obra “Fonte Viva”, pela psicografia de Chico Xavier, nos diz Emmanuel: 

Alimentando a guerra com os outros, perdemo-nos nas trevas exteriores, esquecendo o bom combate que nos cabe manter em nós mesmos.
Façamos a paz com os que nos cercam, lutando contra as sombras que ainda nos perturbam a existência, para que se faça em nós o reinado da luz.
— livro Fonte Viva, capítulo 114.

Quando a gente se preocupa muito com o que o outro faz conosco, o que o outro está fazendo ou o que está acontecendo no mundo, contribuímos com o desequilíbrio. Nunca as coisas serão externamente, todo o bem, toda felicidade. Toda a luz será de forma individual, dentro de cada um e quando a maioria estiver assim, a humanidade será feita de luz, de felicidade, de paz.

Emmanuel continua:

De lança em riste, jamais conquistaremos o bem que desejamos. A cruz do Mestre tem a forma de uma espada com a lâmina voltada para baixo.
Recordemos, assim, que, em se sacrificando sobre uma espada simbólica, devidamente ensarilhada, é que Jesus conferiu ao homem a bênção da paz, com felicidade e renovação.
— livro Fonte Viva, capítulo 114.

Portanto, quando Jesus fala a Pedro “embainha tua espada” significa um movimento interno.

O destino de Malco

E o que aconteceu com Malco, o soldado que teve a orelha cortada por Pedro?

Imediatamente quando Pedro corta a orelha do soldado Malco, Jesus impõe as mãos e estanca o sangramento. 

Amélia Rodrigues nos coloca que em alguns textos aparece como que Jesus tivesse recuperado a orelha do soldado, mas na verdade ele apenas estanca o sangramento. Ele não repõe a orelha porque havia ali um processo de aprendizado de regeneração. Tudo que aconteceu viria a ser importante para o soldado Malco. 

Este soldado era alguém que queria destaque na sociedade. Viu em Caifás alguém que olhou para ele e então fazia tudo o que Caifás mandava, porque tinha ambição desmedida.

Malco ficou estigmatizado pela marca. Naquela época, quando alguém era ladrão, eram-lhe cortadas as mãos, a orelha ou o nariz, para que fosse facilmente reconhecido como ladrão e para atemorizar quem potencialmente pensasse em cometer crimes. Como ele ficou sem a orelha, a corte pôs fim às ambições de Malco, que passou a ser visto como aleijado. Sem ninguém para ajudá-lo, ele teve que fugir e foi parar no coração de Roma, vivendo de forma anônima.

E para nós, qual a reflexão? Embainha tua espada, trabalha tua imperfeições para conquistar a paz interior. Seremos auxiliados, mas a prova é individual e intransferível.

Acompanhe na íntegra a palestra que inspirou esta publicação:

* Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.
** Imagem em destaque: via Pexels.com.

Categorias: Notícias

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