Em palestra para a Associação Espírita Fé e Caridade, a trabalhadora da casa Elisa Luz nos trouxe o contexto de uma das personagens da Boa Nova, dos tempos em que Jesus esteve conosco, encarnado na Terra. Essa personagem é Tomé, um dos doze apóstolos de Jesus.

Como uma das referências para sua exposição, Elisa indica o capítulo 100 do livro Fonte Viva, pelo espírito Emmanuel com psicografia de Francisco Candido Xavier. Também o livro Vida e Atos dos Apóstolos de Cairbar Schutel traz informações sobre Tomé.

Quem foi Tomé?

Tomé era judeu, da Galileia, filho de pescador e também pescador. Nos relatos em que Tomé aparece, citado pelos evangelistas, vemos que ao mesmo tempo em que ele era extremamente corajoso e se colocava a fazer as coisas, ele rapidamente também desacreditava daquilo que ele mesmo fazia. 

“Quando a gente começa a estudar as personagens da Boa Nova, o exercício é sempre olhar para a personagem mas buscar dentro da gente e se perguntar: o que isso tem relação comigo? Porque esse é o aprendizado,” nos ensina a palestrante. Elisa nos provoca:

Será que a gente não se coloca dessa forma às vezes como corajosos e muitas vezes desacreditando de algumas coisas?

O nome de Tomé está ligado à expressão “ver para crer”, pois ele estava ausente quando da ressurreição de Jesus e duvidou que tal momento realmente tivesse acontecido. Embora não estivesse na ressurreição do mestre, Tomé estava sempre bem próximo de Jesus.

A personalidade de Tomé

Traços da sua personalidade o apresentam como alguém rápido para pensar e rápido para desacreditar. Andava segundo a lógica. Parecia desconfiar de tudo e de todos. Era o que mais se preocupava em que Jesus dilatasse a sua zona de influência junto aos homens mais importantes e mais ricos. 

Também perguntava a Jesus porque não operava mais milagres para que as pessoas acreditassem nele e, então, o mestre explicava com carinho para que ele entendesse o porquê de suas atitudes. Ao mesmo tempo, em vários momentos, tinha impulsos de heroísmo e se colocava ao lado de Jesus. 

Sua crença oscilava. No Evangelho Segundo o Espiritismo, lemos: “Seja mais forte a vossa fé do que os sofismas a as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira”.

Por exemplo, quando Jesus convida os apóstolos a pescarem e eles não conseguem pescar nada. Aí, no dia seguinte, o Mestre sugere que joguem a rede novamente novamente e Tomé disse que não acreditava, que não haveria peixe. Mesmo assim, Jesus compreendia e o tratava com amor e paciência. Por acreditar e desacreditar constantemente, Tomé era conhecido por ser “o apóstolo descrente”.

Aprender com Tomé

Estudar as personagens participantes da vinda de Jesus à Terra, é um convite à auto análise. Se nós mesmos temos paciência com os erros de nossos irmãos, nós também necessitamos dessa mesma paciência. E por que será que Tomé, tão instável em seus sentimentos, estava ali, junto a Jesus? Nada é em vão nos ensinamentos do Mestre e tudo que aconteceu quando Ele esteve aqui foram lições para o presente, mas, mais ainda, para o nosso futuro. 

Deus sabia muito bem como seus filhos teriam necessidade de toda essa formação, com todos os exemplos que seriam deixados para nossa evolução. E, será que nós também não precisamos “ver para crer”? Crer, no sentido de sentir. Sentir o que vem do coração. Podemos sentir a presença de Jesus e de espíritos benfeitores em uma doutrinária na casa espírita, por exemplo, se nos colocarmos em posição de sentir, de receber aqueles fluidos benéficos para que possamos modificar nossos atos. Sentir, perceber, agir, demanda trabalho. 

Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que, até hoje, eles chamaram de prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Ante a incredulidade de Tomé, Jesus disse: “bem-aventurados são os que não viram e creram”.

Quanta sabedoria nessas palavras, pois os olhos que verdadeiramente veem não são os do corpo, e, sim, os do espírito. Mas, ainda, o homem que vive ligado à matéria, necessita sempre um sinal para crer.

Quando Jesus resolve voltar ao lugar onde foi perseguido, os apóstolos diziam para o Mestre não voltar, que ele seria torturado, mas Tomé disse que não — se ele queria voltar, que todos voltassem com ele e se ele morresse, morreriam todos junto com Ele. Tomé tinha essa coragem. Mas quando soube que Jesus havia sido crucificado, se encheu de remorso por ter incentivado que Ele voltasse. E, quando Jesus se apresentou aos apóstolos, após o desencarne, Tomé não estava. Sua reação ao saber foi não acreditar porque não havia visto, nem tocado em Jesus. Após oito dias, Jesus reaparece e Tomé estava presente. O Mestre se dirige a Tomé dizendo: “que a paz esteja convosco” e o convida a tocar em suas feridas e ver que Ele estava ali e que não era preciso ver para crer, como citado anteriormente.

Mas, em todos os tempos, sempre foi assim. Cristóvão Colombo, quando idealizou o projeto de sua viagem, tentando encontrar um caminho marítimo para as Índias, acreditava que a terra era redonda, mas os astrônomos e membros da igreja diziam que a Terra era chata e rodeada de água e que isso seria incompatível com os dogmas da Igreja. Assim como Galileu quando disse que a Terra girava ao redor do sol. Joana D’arc foi taxada de feiticeira quando afirmou que ouvia as vozes dos espíritos.

Passados dois mil anos das revelações das verdades eternas trazidas por Jesus e outros grandes missionários, ainda prevalecem teorias errôneas a respeito de todas essas verdades.

Reafirmando, então, os olhos que verdadeiramente vêem são os do espírito e não os do corpo. Mas nós necessitamos sempre de provas para crer. Estamos embotados de informações materialistas e egoístas, daí a dificuldade de abrirmos nossa sensibilidade para ver o que, na realidade, significa o equilíbrio para nós mesmos e para a humanidade.

Fé raciocinada

Após essa análise, devemos então acreditar que a fé é cega? Vejamos o que nos diz o espírito Emmanuel no livro O Consolador, pela psicografia de Francisco Candido Xavier. 

Será fé acreditar sem raciocínio?
Acreditar é uma expressão de crença, dentro da qual os legítimos valores de fé se encontram embrionários. O ato de crer em alguma coisa demanda a necessidade do sentimento e do raciocínio, para que a alma edifique a fé em si mesma. Admitir as afirmativas mais estranhas, sem um exame minucioso, é caminhar para o desfiladeiro do absurdo, onde os fantasmas dogmáticos conduzem as criaturas a todos os despautérios. Mas também interferir nos problemas essenciais da vida, sem que a razão esteja iluminada pelo sentimento, é buscar o mesmo declive onde os fantasmas impiedosos da negação conduzem as almas a muitos crimes.
— O Consolador, questão 355.

Há que se ter “equilíbrio” em tudo. Por isso, o recolhimento, a reflexão, a análise antes das palavras e da ação. Ao lembrar da frase de Jesus: “A minha paz vos dou, a minha paz vos deixo”, verificamos que não está inserida no contexto da vida material, mas num crescimento dentro de nós, sobre o aprendizado dos seus ensinos e a vivência desse aprendizado, enfrentando as dificuldades que se apresentam em nossas vidas. A paz que nos interessa é a paz interior, mesmo quando o entorno está em total descontrole.

E voltamos sempre à busca do conhecimento de nós mesmos. A verdadeira paz e equilíbrio sempre será o dever realizado, o pensamento elevado, palavra construtiva e ações voltadas ao bem. Quando analisamos algo com calma e lucidez, verificaremos o que é melhor e correto para nós mesmos e para todos. Os bons pensamentos, a prece e ação no bem nos darão a base para raciocinarmos de forma a agir da melhor forma possível dentro de nossas limitações existentes ainda aqui nessa experiência reencarnatória.

Fiquem com Deus meus amigos queridos. Que possamos trabalhar incessantemente em nossa autotransformação. Que assim seja!

Referências:

– LIVRO DOS ESPÍRITOS. Cap. XIX. Ítens 11 e 12.

– XAVIER, Chico. Boa Nova. Cap. 16. Por Humberto de Campos.

– XAVIER, Chico. Fonte Viva. Cap. 100. Por Emmanuel.

– XAVIER, Chico. O Consolador. Questão 355. Por Emmanuel.

Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

* Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
** Imagem em destaque: via wikimedia. A Incredulidade de São Tomé, pintura do mestre barroco italiano Caravaggio.

Categorias: Notícias

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