Em palestra transmitida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Paulo César Allebrandt nos trouxe o interessante tema “Bônus-hora“, de modo didático e cativante. Sugerimos conferir o vídeo ao final do artigo.

Bônus-hora

A expressão bônus-hora é pouco encontrada nas obras espíritas. Está principalmente no livro Nosso Lar, psicografado por Francisco Cândido Xavier, ditado pelo espírito André Luiz. Também aparece algumas vezes no livro Cidade no Além, dos médiuns Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha, pelos Espíritos André Luiz e Lucius.

Vamos contextualizar brevemente sobre a obra Nosso Lar, a fim de auxiliar no entendimento das explicações acerca do bônus-hora.

Nosso Lar

O Espírito André Luiz nos traz uma coleção de livros sobre a Vida no Plano Espiritual, sendo Nosso Lar o primeiro. Nele, André Luiz narra que fora um médico muito orgulhoso, que cultivou alguns vícios na carne, como o abuso de álcool. Isso o levou a uma morte prematura, frente à sua programação reencarnatória.

Ao desencarnar, ele se viu nas zonas umbralinas, por onde vagou durante oito anos. Perseguido por outros espíritos sofredores, era atormentado por chamarem-no de suícida. Aos poucos, André Luiz consegue rever a própria vida e entender seus erros. Ao falar sobre isso no livro, o autor espiritual faz um parênteses nos alertando:

Buscai a verdade, antes que a verdade vos surpreenda. Suais agora para não chorardes depois”.
— livro Nosso Lar, capítulo 1, Nas zonas inferiores.

A partir de uma prece sincera, feita de todo sentimento, ele ficou aberto ao auxílio de resgate. Tal socorro foi feito pelo Ministro Clarêncio e outros trabalhadores. Foi então que André Luiz se viu em uma colônia espiritual palpitante, plena de vida e atividades, organizada de forma exemplar. Nessa colônia, de nome Nosso Lar, os Espíritos desencarnados passam por recuperação e educação espiritual, sendo instruídos por Espíritos superiores.

Lá, André Luiz recebeu tratamento, atenção e instrução. Assim, foi acompanhado de perto por amigos espirituais, como Lísias, que pacientemente o atendia na sua recuperação e na sua quase insaciável curiosidade. Após um período se adaptando, André Luiz sentiu a necessidade do trabalho construtivo. Para isso, Lísias o orientou a procurar pelo Ministro Clarêncio.

Na audiência marcada com o Ministro, André Luiz foi atendido junto de uma senhora. O tempo se otimiza nesse método de atendimento de Clarêncio, pois permite que as orientações feitas a uma pessoa alcancem também a outra.

Nessa conversa, a senhora pediu para interceder pelos seus filhos encarnados. Então o Ministro faz algumas ponderações e questiona quantos bônus-horas ela apresentava. Ao que a interpelada respondeu: 304. Clarêncio lamentou o fato de que, após 6 anos na colônia, ela só tinha realizado 304 horas de trabalho. 

Assim, o Ministro Clarêncio nos introduz ao termo, fornecendo uma noção de que o bônus-hora parece ser uma contabilização das horas empregadas em trabalho.

O que são bônus-hora?

A audiência citada acima é quando este termo aparece pela primeira vez no livro Nosso Lar. Em nota de rodapé, André Luiz esclarece o significado bônus-hora como sendo: “ponto relativo a cada hora de serviço”.

Assim, o tempo investido em trabalho, que é toda ocupação útil (O Livro do Espíritos, q. 675), é computado. Essa pontuação pode ser convertida em bônus ou vantagem, merecida, a favor do trabalhador. Mas essa vantagem adquirida é dada em que aspecto? É o que veremos a seguir.

Duas utilidades dos bônus-hora

1. Aquisições na colônia espiritual

Em outro trecho do livro, vemos o termo novamente em conversa entre André Luiz e dona Laura, mãe de Lísias. Ela explica que as aquisições em Nosso Lar são feitas à base de horas de trabalho.

Diz que o bônus-hora, no fundo, é como se fosse dinheiro. E que são espécies de cupons, obtidos a custa de esforço e dedicação, que nos permite adquirir utilidades no plano espiritual.

André Luiz, interessado sobre o bônus-hora, questiona a dona Laura:

– […] Trata-se de algum metal amoedado?
– Não é propriamente moeda, mas ficha de serviço individual, funcionando como valor aquisitivo.
— livro Nosso Lar, capítulo 22, O Bônus-Hora.

2. Atendimento de pedidos

Na reunião com o Ministro Clarêncio, o instrutor solicita à senhora que informe a quantidade de bônus-hora que apresenta em favor do seu pedido.

Assim, ele nos dá a ideia de que essa medida relativa ao trabalho pode ser usada como uma forma de mensurar, de certa forma, o merecimento para o atendimento de pedidos.

Assim, o bônus-hora é um dos fatores considerado na análise dos pedidos. Além dele, certamente devem haver tantos outros. A exemplo do pedido de André Luiz para trabalhar na colônia: o Ministro Clarêncio lhe diz que ele teria a oportunidade do trabalho. Porém, noticiando que ele estava sendo agraciado pelas intercessões de sua mãe e de 15 pacientes, dos 6 mil que ele receitou gratuitamente quando encarnado — ainda que não tivesse atendido esses pacientes de bom grado.

A senhora que estava na mesma audiência de André buscava inteceder pelos filhos, todavia não tinha bônus-hora suficiente para tal. O Ministro Clarêncio também lembra àquela senhora sobre as várias oportunidades de trabalho que lhe foram apresentadas e sobre a dificuldade dela de aceitar qualquer uma delas.

Com isso, o Ministro reforçou à senhora que ao não realizar nenhum trabalho útil, não tinha desenvolvido as correntes de simpatia necessárias para auxiliar os seus. Por fim, ele recomenda que ela retorne aos Campos de Repouso para refletir.

Como o trabalho dignifica o ser humano, caso o Ministro concedesse tal pedido, ela seria incapaz de prestar socorro justo. Para que qualquer um de nós alcance a alegria de auxiliar os amados, faz-se necessária a interferência de muitos a quem tenhamos ajudado, por nossa vez.

Como funciona o bônus-hora?

Todos da colônia cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem. Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos. Seu esforço na obtenção de bônus-hora faz com que consigam certas prerrogativas na comunidade social.

Vestuário, alimentos e casa

A governadoria da colônia tem serviços de distribuição de provisões de pão e roupa dentro do que é estritamente necessário, como explica dona Laura:

[…] em Nosso Lar a produção de vestuário e alimentação elementares pertence a todos em comum. Há serviços centrais de distribuição na Governadoria (…). O celeiro fundamental é propriedade coletiva.
— livro Nosso Lar, capítulo 22, O Bônus-Hora.

Ela informa, ainda, que as construções são patrimônio comum, sob controle da Governadoria. Mas que cada família pode adquirir um lar, nunca mais que um. Para tanto, é necessária a apresentação de 30 mil bônus-hora.

Entende-se, portanto, que mesmo quem não trabalha terá o que comer, o que vestir e até mesmo terá abrigo. Agora, quem trabalha, pode ter uma casa própria, escolher o que vestir e até buscar alimentos diferenciados.

Estudo e entretenimento

As pessoas que não trabalham podem permanecer nos campos de repouso ou parques de tratamento, favorecidas por intercessão amiga.

Já os que trabalham e conquistam o bônus-hora, podem gozar da companhia de irmãos queridos em locais destinados ao entretenimento. Ou até desfrutar de momentos de aprendizado com orientadores sábios em diversas escolas.

Assim, há o reconhecimento pelo trabalho realizado e o merecimento que decorre disso.

Bônus-hora é transferível?

O bônus-hora não chega a ser uma moeda. Fosse uma moeda, qualquer um poderia repassar o montante que tivesse para outra pessoa. Ou seja, não é transferível.

Apesar da doação de bônus-hora não ser possível, é possível se valer dos bônus-hora obtidos para beneficiar alguém. Vemos isso na conversa de André Luiz e dona Laura:

– Poderemos, porém, gastar nossos bônus-hora a favor dos amigos? – indaguei curioso.
– Perfeitamente – disse ela -; poderemos repartir as bênçãos de nosso esforço com quem nos aprouver. Isto é direito inalienável do trabalhador fiel. Contam-se por milhares as pessoas favorecidas em “Nosso Lar”, pela movimentação da amizade e do estímulo fraternal.
Nosso Lar, capítulo 22, O Bônus-Hora.

Temos o exemplo de Dona Laura, que estava se preparando para reencarnar, mas deixava a casa para a família. Por conta dos três mil bônus-hora que tinha obtido, poderia solicitar o auxílio à sua filha que estava para chegar. Assim como solicitar o auxílio dos amigos de Nosso Lar a ela própria durante a sua futura experiência na carne.

Além da casa para a família e auxílio, dona Laura pretendia transmitir suas obrigações no ministério do Auxílio à filha. Visto que esta logo estaria apta para isso. Com isso, partiria mais sossegada. Ou seja, ela não só legaria intercessão gratuita proveniente do seu amor, como também oportunidade justa de trabalho, como prova igualmente de amor.

Jornada de trabalho

Dona Laura explica que cada habitante que trabalha deve realizar uma jornada de, no mínimo, 8 horas por dia. Porém, os programas de trabalho são numerosos e a Governadoria permite 4 horas de esforço extraordinário

Logo, os que desejam colaborar de boa-vontade com algumas horas a mais no trabalho comum, podem. Tal limite de horas-extras de trabalho, bem como o fato de não haver expediente em um dia da semana, dedicado ao repouso, como vemos na questão 682 de O Livro Espíritos:

682. Sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, o repouso não é também uma lei da natureza?
Sem dúvida. O repouso serve para a reparação das forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência…
— O Livro dos Espíritos, parte terceira, capítulo III, Lei do Trabalho, item Limite do trabalho. Repouso, questão 682.

Dessa forma, 8 a 12 horas diárias ocorrem ao longo de seis dias na semana. Totalizando de 48 a 72 horas de trabalho semanais, o que importa na aquisição de 48 a 72 bônus-hora por semana.

Entretanto, também há trabalhos que permitem uma contagem diferenciada de bônus-hora, são os serviços sacrificiais, em que a contagem é dobrada ou triplicada.

A exemplo de serviço sacrificial, temos o trabalho relativo a cuidados com crianças, que é contado em dobro. Com isso, dona Laura traz a relevância da maternidade/paterniddade. O que nos lembra da questão 582 de O Livro dos Espíritos:

582. Pode-se considerar como missão a paternidade?
Sim, incontestavelmente! Constitui grandíssimo dever […]
— O Livro dos Espíritos, parte segunda, capítulo X, Das ocupações e missões dos Espíritos, questão 582.

Sejam os serviços da mais alta chefia ou da subalternidade, todos obedecem o mesmo padrão de pagamento. Se for de sacrifício pessoal, terá a remuneração multiplicada de forma justa.

Natureza do trabalho

Há, ainda, a informação de que os bônus-horas são identificados de acordo com a natureza do trabalho. No Ministério da Regeneração, temos o Bônus-Hora-Regeneração; no Ministério do Esclarecimento, o Bônus-Hora-Esclarecimento, e assim por diante.

Ao examinar o proveito espiritual, é razoável revelar na documentação de trabalho a essência do serviço. Com isso é possível que se tenha maior clareza sobre as experiências e conhecimentos adquiridos pelo trabalhador.

O bônus e a hora

Certo dia, após muito trabalho, André Luiz encontra sua mãe em sonho, a qual se encontrava em planos mais evoluídos. Nesse momento, ela traz reflexões valiosas sobre o bônus-hora.

Primeiro ela informa que o bônus-hora é comum na maioria das colônias espirituais que conhece. Dando a entender que não é uma regra absoluta na remuneração de serviço.

Então explica que base de compensação do trabalho une dois fatores essenciais: o bônus e a hora.

O bônus representa a possibilidade de receber alguma coisa de nossos irmãos em luta, ou de remunerar alguém que se encontre em nossas realizações. Mas o critério quanto ao valor da hora pertence exclusivamente a Deus.

Na bonificação exterior pode haver muitos erros de nossa personalidade falível. Para um mesmo número de bônus conbilizados, podemos ter um aproveitamento diferente de cada indivíduo na sua evolução espiritual. Por isso, no concernente ao conteúdo espiritual da hora, há correspondência direta entre o Servidor e as Forças Divinas da Criação.

Sabemos que toda compensação exterior afetará de alguma forma a personalidade em experiência. Mas, acima disso, todo valor de tempo interessa ao Espírito eterno, em marcha para a glória de Deus. É por essa razão que o Altíssimo concede sabedoria ao que gasta tempo em aprender e dá mais vida e mais alegria aos que sabem renunciar!

Em resumo, o bônus-hora é capaz de mensurar e reconhecer o trabalho realizado, mas o real valor da hora empregada só cabe a Deus. Apenas Deus terá condições de determinar com exatidão o aproveitamento justo do trabalho realizado.

Fica, portanto, o alerta! Não basta estar em um trabalho “só pelos bônus-hora”. É necessário que estejamos no trabalho por inteiro, de coração, com a disposição para realizá-lo da melhor forma possível, aproveitando a oportunidade para o aprendizado, para a reforma íntima e para o progresso na senda do bem.

Exemplo de André Luiz

Antes do sonho que André Luiz tem com sua mãe, o sentimento descrito por André Luiz era este:

Na oficina, onde a maioria procura o trabalho, entendendo-lhe o sublime valor, servir constitui alegria suprema. Não pensava, francamente, na compensação dos bônus-hora, nas recompensas imediatas que me pudessem advir do esforço; contudo, minha satisfação era profunda, reconhecendo que poderia comparecer feliz e honrado, perante minha mãe e os benfeitores que havia encontrado no Ministério do Auxílio.
A sós com o grande número de enfermeiros, passei a interessar-me pelos doentes, com mais carinho. Dentre as figuras de auxiliares presentes, impressionou-me a bondade espontânea de Narcisa, que atendia a todos, maternalmente. […] Não foi difícil alcançar o prazer de sua conversação carinhosa e simples. A velhinha amável semelhava-se a um livro sublime de bondade e sabedoria.
— do livro Nosso Lar, de André Luiz pela psicografia de Francisco Candido Xavier.

Percebemos que o sonho que ele teceu com sua mãe não foi à toa. Ele estava em sintonia com o serviço no bem, com pensamentos e sentimentos nobres. Por isso, a encontrou em planos mais elevados. Para o plano espiritual superior, importa considerar os valores morais adquiridos com o trabalho.

Exemplo de dona Laura

Dona Laura diz a André Luiz que está preparando o seu retorno à carne. E comenta que se faz necessário o retorno porque, nas palavras dela: “Não podíamos pagar à Terra com bônus-hora e sim com o suor honrado, fruto de trabalhos”. Ou seja, embora o trabalho realizado na colônia auxilie na evolução espiritual, há certos resgates e aprendizados que ficam mais passíveis de serem realizados somente quando encarnados.

Mais um motivo para não ficar focado apenas no bônus-hora, visto que ele não “resolve” tudo. O bônus-hora apenas é uma forma de organização no plano espiritual, mas devemos dar importância ao “fundo”, à essência. Enxergar no trabalho a alegria de servir ao próximo, como oportunidade de exercer a lei de Amor e construir o Reino de Deus no coração.

Corroborando, André Luiz nos lembra:

[…] não se esqueça você de que o serviço ao próximo é a única medida que fornece exata notícia do seu merecimento espiritual.
— livro Ideal espírita, capítulo 31, Única medida.

Remuneração espiritual

Convido a finalizarmos a leitura com um texto de Emmanuel, do livro Perante Jesus:

Além do salário amoedado o trabalho se faz invariavelmente, seguido de remuneração espiritual respectiva, da qual salientamos alguns dos itens mais significativos:
acende a luz da experiência;
ensina-nos a conhecer as dificuldades e problemas do próximo, induzindo-nos, por isso mesmo, a respeitá-lo;
promove a autoeducação;
desenvolve a criatividade e a noção de valor do tempo;
imuniza contra os perigos da aventura e do tédio;
estabelece apreço em nossa área de ação;
dilata o entendimento;
amplia-nos o campo das relações afetivas;
atrai simpatia e colaboração;
extingue, a pouco e pouco, as tendências inferiores que ainda estejamos trazendo de existências passadas.
Quando o trabalho, no entanto, se transforma em prazer de servir, surge o ponto mais importante da remuneração espiritual:
Toda vez que a Justiça Divina nos procura no endereço exato para execução das sentenças que lavramos contra nós próprios, segundo as leis de causa e efeito, se nos encontra em serviço ao próximo, manda a Divina Misericórdia que a execução seja suspensa, por tempo indeterminado.
E, quando ocorre, em momento oportuno, o nosso contato indispensável com os mecanismos da Justiça Terrena, eis que a influência de todos aqueles a quem, porventura, tenhamos prestado algum benefício aparece em nosso auxílio, já que semelhantes companheiros se convertem espontaneamente em advogados naturais de nossa causa, amenizando as penalidades em que estejamos incursos ou suprimindo-as, de todo, se já tivermos resgatado em amor aquilo que devíamos em provação ou sofrimento, para a retificação e tranquilidade em nós mesmos.
Reflitamos nisso e concluamos que trabalhar e servir, em qualquer parte, ser-nos-ão sempre apoio constante e promoção à Vida Melhor.
— livro Perante Jesus, capítulo 4, Remuneração espiritual.

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

O palestrante estruturou a exposição de forma muito didática e cativante, construindo o entendimento sobre bônus-hora de forma gradativa junto com os ouvintes. Confira!

*Colaborou para esta publicação: Ana Maria B. Lopes e Paulo César Allebrandt.
**Imagem em destaque: via pexels.com 

Categorias: Notícias

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