Na palestra doutrinária transmitida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Carlos Aldir nos trouxe o tema Simplicidade e Pureza de Coração.

Como espíritos imortais que somos, vamos aprendendo gradativamente e mudando nossa forma de pensar e agir. Estamos aqui, encarnados, criados por Deus para colaborarmos na obra divina. A Terra é um pedacinho do Universo imenso e nós somos trabalhadores que auxiliam na obra de evolução iniciada por Jesus quando aqui esteve.

O Universo tem suas leis para que tudo possa acontecer dentro de uma harmonia, de um equilíbrio (leis físicas). As leis que regem os espíritos, são as leis morais e a maior delas: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Essa é uma lei de amor. E Jesus, em seus ensinamentos e práticas nos falou de amor. As obras básicas de Allan Kardec, os estudos dos quais participamos, nos auxiliam sempre a Amar. Parece simples, não? Para nós, aprendizes, há um longo caminho a percorrer para aprendermos a amar incondicionalmente.

Quando pensamos em nossa evolução, no que fomos desde que nosso mundo começou, até agora, percebemos que evoluímos, devagar, mas evoluímos. E, de acordo com as lições que Jesus nos deixou, temos consciência que precisamos, ainda, nos desvencilhar do orgulho, do egoísmo, da inveja e de todos os sentimentos que não partam do coração. O coração é sede da sabedoria, da memória, da vontade, das disposiçoẽs da alma, das paixões e sentimentos, dos desejos, da consciência.

Cérebro e coração

Aristóteles afirmava que o coração era o órgão do pensamento, das percepções e do sentimento. Platão colocava que é pelo cérebro que se experimenta de maneira sensível a ação de pensar, atividade superior por excelência e definidora da essência humana, enquanto ser racional. Já o coração, dizia Platão, é a “alma sensitiva ou emocional”, o princípio dos sentimentos e paixões, como a cólera e a coragem.

Tanto Platão como Aristóteles tinham razão, a alma se encontra mais particularmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais, contribuindo assim para o progresso da humanidade, repartindo seus talentos para o bem estar do próximo. Então, toda a mensagem do Cristo se resume no amor e o coração é o símbolo máximo desse amor e a verdade é que a evolução só ocorre com a dedicação da caridade e de todo nosso coração.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, questão 146, pergunta: “A alma tem, no corpo, uma sede determinada e circunscrita (limites bem marcados)”?

Resposta: “Não. Mas ela se situa mais particularmente na cabeça, entre os grandes gênios e todos aqueles que usam bastante o pensamento, e no coração dos que sentem bastante, dedicando todas as suas ações à Humanidade”.

Sentir bastante é perceber o outro, ter compaixão pelas dificuldades alheias, é ver o outro como um ser em evolução, como nós mesmos. É tão difícil para nós, envoltos nessa vida material ter a consciência, no dia que corre, que o outro está tentando também.

Mahatma Gandhi, no livro “As palavras de Gandhi”, deixou uma bela mensagem: “Acredito que se um homem progride espiritualmente o mundo inteiro está progredindo com ele; se um homem cai, o mundo inteiro cai junto com ele”. Estamos interligados e evoluindo lado a lado, aprendendo com nossos erros e com a observação, sem julgamento, dos atos equivocados, momentaneamente, dos nossos irmãos.

A cada momento de transformação, quando conseguimos fazer uma auto análise, é como se estivéssemos fazendo uma faxina, removendo impurezas e sujeira mental que está alojada no íntimo de nossa alma. 

Uma maneira de amar: simplicidade e pureza de coração

No capítulo VIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, lemos as palavras de Jesus: “Bem aventurados os que têm puro o coração” (Mateus, 5:8). Os ítens 1, 2, 3 e 4 falam sobre: “Simplicidade e pureza de coração”. A palavra “simplicidade” significa simplificar, despojar e “puro”, na língua grega, tem a mesma raiz da palavra “catarse”. Quando entramos em um processo de catarse, passamos, justamente, por um processo de limpeza, que é uma experiência bela e profunda, embora nos olhar não seja um processo fácil. 

Mas, pensemos juntos, quando nos analisamos e verificamos o que precisa ser modificado, já andamos meio caminho em direção à simplicidade. Quando conseguimos começar a agir com calma, leveza, tentando descomplicar e resolver, estamos atingindo, devagarinho, o que nos propomos com o autoexame e, claro, com os conhecimentos amorosos de Jesus adquiridos ao longo de nossa vida.

Ainda no capítulo VIII, item 7, temos que “a pureza de coração e a pureza de pensamentos caminham juntas”. Só é puro de coração quem é puro de pensamentos. Significa dizer que a pureza, reflexo de um sentimento bom, teve seu nascedouro no pensamento puro. Por isso, “vigiai e orai”. Precisamos cuidar dos nossos pensamentos, como uma manifestação do amor que temos por nós mesmos e por nossos irmãos. 

Precisamos lutar contra os sentimentos egoístas que se manifestam sem que os analisemos com a seriedade devida. Essas raízes precisam ser arrancadas. Estamos ainda muito ligados à matéria, o que entrava nosso caminho, nos impedindo de avançar. Evoluir é nosso motivo de estarmos aqui e, para atingir esse objetivo, é imprescindível a simplicidade, para que possamos atingir a humildade, que é aquilo que se opõe à arrogância e a prepotência.

A criança como símbolo de simplicidade e pureza

Analisemos então como nos relacionamos com Deus, com os outros, com a própria obra da criação e conosco mesmos. A que princípios servimos na lida diária? Somos gratos pela vida, pela oportunidade? Para Kardec, a pureza de coração é inseparável da simplicidade e da humildade, porque isto exclui a ideia de egoísmo e de orgulho e que, por isso, Jesus utilizou a infância como símbolo da pureza. 

A criança, que pode ser um espírito antigo encarnado aqui na Terra, com suas tendências trazidas de vidas pregressas, nessa fase infantil, ainda representa a imagem da inocência e da pureza. Voltamos à Terra, passamos pela fase da infância até os sete anos aproximadamente e, então, recomeçamos a acessar o que trazemos de outras experiências reencarnatórias. O trabalho dos pais é muito importante nesse estágio infantil, na tentativa de corrigir comportamentos difíceis arraigados. Começamos, a partir daí, nos relacionamentos com os outros e conosco mesmos a lapidar nosso comportamento.

A Doutrina Espírita nos auxilia a ver a necessidade de trabalharmos as nossas imperfeições, para buscarmos dia após dia minimizar as chagas que ainda dominam nossas ações – o orgulho e o egoísmo. Não há como buscarmos a evolução agindo fora da humildade e da simplicidade. A procura por adquirir e aperfeiçoar essas virtudes são parte do caminho para alcançarmos em algum momento de nossa evolução espiritual, a pureza em nossos corações.

O apóstolo Paulo nos traz em sua segunda carta a Timóteo: 

De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra.
— Paulo (II Timóteo 2:21 “).

Em comentário a este versículo, o espírito Emmanuel nos alerta no capítulo 78 do livro Vinha de Luz:

Quem não guarde os ouvidos pode ser utilizado pela injustiça. Quem não vigie sobre a língua pode facilmente converter-se em vaso da calúnia, pela leviandade ou pela preocupação de sensacionalismo. Quem não ilumine os olhos pode tornar-se vaso de falsos julgamentos. Quem não se orientar pelo espírito cristão, será naturalmente conduzido a muitos disparates e perturbações, ainda mesmo quando a boa-fé lhe incuta propósitos louváveis.
— Emmanuel em Vinha de Luz, por Francisco Candido Xavier.

Que possamos não permanecer estáticos; a nossa evolução e purificação nos aguarda. São nas ações diárias que traçamos nossos próximos passos!

E assim, caros companheiros, encerramos mais essa reflexão com muita gratidão a Deus, ao nosso mestre Jesus e à espiritualidade que nos provê de todos os recursos de que precisamos para trilhar nossa jornada evolutiva com êxito, reconhecendo nossas fragilidades e trabalhando incessantemente para melhorar.

Luz e paz a todos!

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.

REFERÊNCIAS:

– ATTENBOROUGH, Richard. As palavras de Gandhi. Pág. 23.

– EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Cap. VIII. Ítens 1,2,3, 4 e 7.

– LIVRO DOS ESPÍRITOS. Questão 146;

– GALLIAN, Dante Marcello Claramonte. Artigo “Breve história do coração humano até o advento da modernidade”. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO.

– XAVIER, Chico. Vinha de Luz. Cap. 78.

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