Em palestra exibida nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Larissa Martins nos trouxe reflexões sobre o tema Dever perante a Liberdade.

O que significa Dever e Liberdade?

De acordo com a definição do dicionário, liberdade é a condição daquele que é livre, independente e autônomo. É você fazer suas escolhas conforme a sua vontade, sem depender da aprovação ou da permissão do outro.

dever é ser ou sentir-se obrigado a alguma ação. É uma regra que se impõe pela moral, hábitos ou leis.

Observando essas duas definições, parece que elas são um pouco contraditórias entre si. Para ter liberdade você não pode ser obrigado, agindo conforme sua vontade. E quando você pensa em dever, ele vai contra a sua liberdade.

Sede perfeitos

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo 17, item 7, o Espírito Lázaro nos traz uma definição de dever:

O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

O dever é sempre primeiro comigo mesmo. Significa a obrigação moral. As minhas atitudes condizem ou ferem quem eu sou? Responder a isso exige autoconhecimento

Preciso me conhecer, para saber se minhas ações confirmam sobre quem eu penso e digo que sou. Se digo que quero fazer o bem, mas não ajo desta forma, estou ferindo quem eu quero ser.

Muitas vezes, achamos que atuar no bem por dever, é para o bem do outro. Quando falamos em perdão, por exemplo, parece que estamos fazendo um bem para a pessoa perdoada. Sim, é verdade, mas não percebo que faço bem para mim mesmo, e que esse ato bom primeiro me atinge.

O livre-arbítrio

Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

Na situação atual de pandemia, por exemplo, quantos de nós precisou ficar afastado de seus familiares e pessoas queridas? 

Nosso interesse do coração é de se aproximar fisicamente. Entretanto, nosso dever moral é ser responsável pela vida, sermos responsáveis perante os fatos que a ciência nos proporciona.

Ao longo desse período, a nossa vontade era estar presente com outras pessoas. Porém, o nosso dever era fazer o correto, ou seja, o isolamento social, estar presente consigo e pessoas do mesmo lar. Ao invés de estar presente no centro espírita, por exemplo, aprendemos a promover as palavras de Jesus de outra maneira.

Se olharmos para o que queremos agora: nos encontrar pessoalmente e abraçar; é uma liberdade que vai contra o dever. Mas se olharmos o que quero para o meu Espírito eterno, que todos estejam saudáveis e seguros, que eu respeite o próximo e não transmita a doença, não é contra. Simplesmente é a continuidade do que é certo, de quem estou buscando ser.

Isso é o livre-arbítrio. Tudo é uma escolha, e todas escolhas terão suas consequências, positivas e negativas. Mas principalmente, observe se suas escolhas feriram a sua moral.

Diante das nossas escolhas, conseguimos ver que o dever não tem relação apenas para com o outro, mas principalmente para comigo. As escolhas que venho fazendo, confirmam ou contradizem quem eu quero ser, quem eu digo que sou?

O livre-arbítrio vem da ação, de fazer, falar e pensar. Tudo que pensamos é vibração. Principalmente neste momento onde estamos restritos ao contato físico, muita ação é feito através de orações.

O Sofismo

O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

Sofisma significa um argumento ardiloso que induz ao erro. Pode ser uma desculpa que damos para o que sabemos que não é certo, mas encontramos argumentos para justificar uma ação errada.

A paixão está no excesso de que se acresceu a vontade (O Livro dos Espíritos, questão 907). Nossas paixões geralmente estão associadas aos desejos terrenos, materiais. Ela se torna perigosa a partir do momento em que deixamos de poder governá-la, e que resulta em um prejuízo para mim mesmo ou para outra pessoa (O Livro dos Espíritos, questão 908).

Assim, devemos tomar cuidado com os argumentos que a paixão desgorvenada nos aconselha a mente.

A ambição de usufruir tudo hoje, de ser egoísta pode ser induzida pelo argumento de que “não sabemos o dia de amanhã”. Mas sabemos que a vida continua no plano espiritual, de que colhemos as consequências de nossas atitudes. Então não caiamos neste sofisma.

Mas ao errar, não se condene, compreenda que, na próxima vez que a mesma situação surgir, você pode agir diferente. Fazer do erro uma aprendizagem e um ponto de partida para ser e fazer melhor. Esse seria um dever para conosco mesmos. Estamos aqui para aprender. 

Sabemos que estamos encarnados para evoluir. E sabendo o que é certo, as consequências dos atos errados são mais difíceis, porque a Consciência evidencia. Para sermos felizes, precisamos assumir o compromisso com nossa evolução.

Onde começa e termina o dever

Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? onde termina?
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

Quando cumprimos um dever conosco, evoluímos. A busca começa quando vamos atrás da informação e não somente acreditamos no que nos é falado.

O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

Por isso, não existe liberdade absoluta, mas relativa, porque todos precisamos uns dos outros. Devemos pensar nas nossas atitudes, principalmente com relação aos outros. Essa atitude está certa? Para saber se está correta, nos pergutemos: eu gostaria que isso fosse feito para mim?

Quando julgamos que o outro não cumpriu seu dever e quando queremos fazer a justiça com as próprias mãos, temos pouca fé, porque não confiamos que a Justiça Divina é plena e perfeita.

Nosso dever não é aplicar a justiça para o outro. Não é sentenciar coisas para o outro. Você desejaria essa sentença para si? Ou para o seu filho? Mesmo que seja em pensamento, pois estamos emanando uma energia que não é positiva. Lembre-se que, quando tiver pensamentos assim, não estamos desejando para o outro e sim para nós mesmos, ferindo o dever para conosco. Estou fazendo mal para mim.

Tire um momento do seu dia para orar, falar com Deus, com a espiritualidade amiga, pedindo para mostrar onde está errando. Pedindo que tenha forças para impedir estes maus hábitos, que consiga aplicar o que eu tem de bom em si. Eles irão nos ajudar, mas a escolha é nossa.

O afastamento da lei Divina

Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

Deus não criou a dor, a dor é uma consequência do afastamento da lei de Deus, que é lei Universal, do Amor, da Natureza. A Justiça Divina é perfeita, pois mesmo não criando a dor, permite que ela aconteça pelo livre-arbítrio do indivíduo.

Ao termos uma atitude negativa, sofremos as consequências. Se alguém comete atos semelhantes, a consequência será semelhante. A dor é permitida, para cada um de nós saber como dói e não praticar com o outro. “Se dói em mim, deve doer também no outro”. Isso promove a empatia.

Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

A igualdade da dor nos homens é relacionada as mesmas causas. Cada um pode aprender com a experiência alheia os efeitos da dor, isto é, os efeitos do afastamente a lei Divina. Mas quando se escolhe agir a favor do bem, a consequência positiva é sentida de maneiras diferentes, em expressões infinitamente variadas.

Tenha coragem

O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, “Sede Perfeitos”.

O dever não é uma retribuição, é a coragem de ir em busca da felicidade, ou seja, coragem de se aproximar da lei de Deus. E essa lei é toda Amor, é desejar para o outro o que queremos para nós.

O dever é a coragem de se posicionar, tendo a consciência de que somos espíritos eternos. É agir sabendo que essa encarnação não é única, sabendo que o que eu quero hoje talvez não seja o melhor para mim a longo prazo. O dever é ter a coragem de enfrentar com fé e resignação as dificuldades deste mundo de provas e expiações e fazer o bem.

E a liberdade é não depender de ninguém, é o livre-arbítrio nos nossos pensamentos, nas nossas atitudes, nas nossas escolhas. Quando você conhece as verdades da alma, você não escolhe a favor do seu dever?

Assim, pensando em tudo isso, você não acha que o Dever auxilia a nossa Liberdade

Quando a gente cumpre o dever, damos asas a nossa liberdade. Assim como, nada mais livre do que ir ao encontro do dever, para agir conforme quem eu quero ser.

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.

**Imagem em destaque via Pexels.com

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