Inimigos e nós

Jesus veio para trazer novas diretrizes, novas formas de conduta e mostrou que devemos também amar os inimigos, mesmo não sendo uma tarefa fácil.

Na palestra doutrinária transmitida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Julia Fertig nos trouxe o tema Inimigos e nós.

No Sermão da Montanha Jesus disse:

Ouviste o que foi dito, amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo, eu porém vos digo, amais os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.
— Mateus 5:43-44.

O povo naquela época conhecia a lei como: eu amo aqueles que se afinizam comigo, que são próximos a mim, mas aqueles que fazem o mal pra mim, eu não preciso retribuir com o bem. Jesus veio para trazer novas diretrizes, novas formas de conduta e mostrou que devemos também amar os inimigos, mesmo não sendo uma tarefa fácil.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec juntamente com os espíritos que o auxiliaram na codificação colocaram os temas em determinada ordem — e não é coincidência nem ao acaso esta ordem, ela tem um motivo e um objetivo. E curiosamente, o capítulo sobre amar os inimigos está logo após o amar o próximo. 

E por quê? Primeiro a gente aprende a amar quem está próximo de nós, que concorda com as nossas ideias, que nos apoiam, para então começarmos a aprender a amar os nossos inimigos.

Outra curiosidade que Emmanuel trouxe juntamente com Francisco Candido Xavier nos vários comentários acerca dos versículos de Jesus e o versículo “amai os vossos inimigos” é o que mais tem comentários de Emmanuel, talvez por que realmente não é uma tarefa fácil. São ao todo 22 mensagens sobre os versículos 43 e 44 do capítulo 5 de Mateus compiladas na obra O Evangelho por Emmanuel.

Você tem inimigos?

Os inimigos são nossos desafetos do presente ou do passado, que não concordam conosco, que estão tristes, magoados, irritados por algum motivo e podem estar tanto encarnados quanto desencarnados.

Todos nós temos inimigos, pode não ser desta encarnação, mas temos que lembrar que somos espíritos milenares, que tivemos outras vidas e que nem sempre acertamos. E Jesus veio para exemplificar como se relacionar com estes desafetos.

Nosso pensamento nessa hora é de desaprovação, questionamentos, como assim vou ter que me relacionar com o inimigo? Abraçar, beijar, conviver, adorar o meu inimigo?

Não foi isso que Jesus nos pediu, porque ele sabe que muitas vezes não é possível. Também não nos pede que concordemos com os erros alheios, às vezes o nosso desafeto errou mesmo, magoou, teve uma escolha que não é legal e não significa que devemos concordar com esta atitude equivocada. 

A única coisa que Jesus nos pede ao amar os nossos inimigos é compreensão, é entendimento, o olhar de que se o outro errou, tem um motivo. Ele pode estar desiquilibrado, não estar bem consigo mesmo, alguma coisa na vida dele não está legal, por isso que ele errou, assim como nós também erramos.

Amar aos inimigos, na conceituação de Jesus, não será praticar servilismo ou bajulação. É compreender, acima de tudo, que as faltas daqueles que não se afinam conosco poderiam ter sido nossas e imaginar quão felizes nos sentiríamos se tivéssemos, porventura, os nossos erros desculpados e esquecidos, por aqueles aos quais tenhamos ofendido.
— Emmanuel, no livro Monte Acima, por Francisco Cândido Xavier.

Talvez não cometemos este erro porque não estamos na mesma situação daquela pessoa, mas se pararmos um pouco e nos colocarmos no lugar dela, a conclusão que teremos é que talvez caíssemos no mesmo erro, ou até pior. E é este o desejo de Jesus, entender, compreender e perdoar. Jesus sempre pede o que está no nosso alcance, nada fora disso, ele sabe do que somos capazes.

Inimigos e obsessores

Os obsessores nada mais são do que nossos desafetos desencarnados, são pessoas como nós, porém sem o corpo físico. Podemos não os ver mas eles estão perto de nós, possuem os mesmos sentimentos, as mesmas dores, as mesmas felicidades, os mesmos prazeres pois já estiveram encarnados como nós. Ao entendermos isso, passamos a entender que as dores deles são parecidas com as nossas, aquilo que a gente não gosta, eles também não gostam, também machuca.

Por vezes, esses obsessores foram pessoas que nos amaram muito, que confiaram em nós e por algum motivo que as vezes não lembramos, traímos a confiança, machucamos esta pessoa e por isso ela se tornou um desafeto, por uma atitude nossa.

Em um dos episódios dos Evangelhos no Lar transmitidos pela FEBtv, foi descrito que os espíritos obsessores muitas vezes nos veem como uma fotografia, de como fomos no passado. Podemos até ter mudado, mas eles ainda nos enxergam daquela forma e por isso guardam mágoas e tristeza. E a notícia não muito boa é que na maioria das vezes, nós ainda somos a mesma pessoa que fomos lá no passado, com os mesmos pensamentos, com os mesmos equívocos. Podemos não fazer mais exatamente o que fazíamos lá atrás, mas ainda pensamos da mesma forma e isso serve para que estes espíritos tenham afinidade conosco, é a lei de afinidade.

Precisamos lembrar que neste relacionamento com os inimigos, ninguém se resume em um ato só, a um erro, a um equívoco, por vezes alguém erra conosco ou com alguém que amamos e ficamos presos naquilo. Aquela pessoa se torna aquela atitude, acabamos por não mais lembrar das coisas boas que esta pessoa fez para nós e para os outros.

Portanto, lembre-se: os inimigos não são apenas este equívoco, eles também possuem coisas boas.

A importância da oração

Uma breve história contada também em um dos Evangelhos no Lar transmitida pela FEBtv, uma mãe cujo filho na fase da adolescência, tinha um certo grau de mediunidade e começou a passar por um difícil e intenso processo obsessivo, que durou alguns meses e a mãe passou a orar pelo obsessor do filho. 

Ela já participava de trabalhos na casa espírita e depois de um tempo, este espírito que estava obsediando, se comunicou no trabalho que ela participava e disse: “eu não posso mais fazer o que eu queria fazer com o seu filho, eu esperei muito tempo para me vingar, não que seu filho não mereça, ele ainda merece, mas se eu fizer o que eu quero fazer com teu filho, eu vou te ferir e eu não posso ferir o coração de quem sarou as minhas feridas”.

Veja que a atitude de uma mãe para com o obsessor do filho. Tocou o coração deste obsessor que então desistiu de ter esta vingança por conta do amor que ele recebeu.

O que ela fez com a oração? Quebrou este padrão vibratório de vingança e ódio com seu carinho e amor.

Portanto é isso que temos que buscar, quebrar este ciclo e a oração é um dos caminhos. Como Jesus falou, “amais os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44).

Durante o sono

Não podemos esquecer que durante a noite de sono físico, nosso espírito continua a trabalhar, a estudar, a se relacionar com o mesmo padrão vibratório que tivemos durante o dia. O sono é como se fosse uma porta para este relacionamento com nossos amigos e desafetos desencarnados, então vamos utilizar desta ferramenta pra construir coisas boas.

Quem quiser estudar, orar, cumprir com os próprios deveres e trabalhar em auxílio dos outros, principalmente daqueles que atravessam dificuldades e provações maiores que as nossas, alcança libertação e tranquilidade com toda certeza porque os nossos adversários são sensíveis as nossas palavras, mas só se transformam para o bem, com o apoio em nossas próprias ações.
— do livro No mundo de Chico Xavier – Entrevistas, por Francisco Candido Xavier e Elias Barbosa.

Eles nos observam, estão no nosso lado e até são sensíveis a aquilo que falamos, mas são nossas ações que fazem a diferença.

Rezar e pedir para que os obsessores se afastem de nós é um erro, pois tem um motivo de estarem ali, tem algo que precisamos resolver. Sendo assim, devemos orar para que tenhamos força, discernimento, fé e vontade para mudar e melhorar, porque se simplesmente se afastar, nós não resolveremos o problema.

A ação no bem

Cuidamos do nosso corpo para nos proteger dos vírus e das bactérias, mas temos que cuidar da nossa alma também. 

Ao fazer uma boa ação a uma pessoa, talvez um dia ela nos retribua uma boa ação ou faça para outra pessoa, gerando assim uma corrente de benefícios tanto para encarnados como para os desencarnados, pois as famílias espirituais que nos acompanham, são gratos às pessoas que ajudam. 

Uma corrente que, assim como a do mal temos que quebrar, a do bem temos que incentivar.

6 antídotos aos inimigos

1. A boa conduta

A AEFC dispõe diversos tratamentos para auxiliar na recuperação de pessoas em desequilíbrio espiritual, incluindo aqueles relacionados à atuação de obsessores. Mas nada adianta se não mudarmos a forma de agir, pois o que causa o nosso sofrimento e trazem nossos desafetos são as nossas atitudes. 

O tratamento está para ajudar mas é preciso que tenhamos uma mudança, não somente no ambiente onde recebemos o tratamento, mas na família, no ambiente de trabalho, na sociedade, no trânsito, nas mais diversas situações.

2. O autoconhecimento

Uma das grandes propostas da Doutrina Espírita é que nos conheçamos. Ou seja, conhecer aquilo que nos faz bem, aquilo que nos tira do sério, as nossas fraquezas, em que situações ainda deslizamos com facilidade.

3. O tempo

Este antídoto esquecemos com frequência. Quem nunca teve o pensamento de que estava fazendo tudo certo, orando, fazendo o bem e nada mudou ou melhorou? 

Precisamos dar tempo ao tempo. Muitas vezes o que estamos passando, precisamos de fato passar por determinado tempo, temos que aprender a esperar.

4. Cultivar a oração

É difícil orar para o inimigo com carinho, amor e compaixão. Às vezes oramos da boca pra fora, mas não vai ser de uma hora para outra que vamos conseguir orar com sentimento e sinceridade

O importante é que esse cultivo seja crescente, que dia após dia a gente consiga ir colocando um pouco mais de amor, de cuidado e atenção nessa oração. É com a oração que vamos preparando o coração para no futuro, conseguir estender a mão ao inimigo e ajudar.

5. Prática da caridade, do bem, do olhar o outro

O evangelho já nos diz, fora da caridade não há salvação.

6. O perdão

Emmanuel nos diz que o perdão é o antídoto mais poderoso para com os nossos inimigos. O perdão serve como libertação, para nós e para o nosso inimigo. É o antídoto que vai nos libertar para seguirmos na nossa caminhada e não fiquemos presos nos acontecimentos.

E segundo o Evangelho:

Reconcilia-te com teu adversário enquanto estás a caminho com ele.
— Mateus 5:25.

Amigos e Inimigos

Chico Xavier descreveu a importância dos nossos amigos mas também dos nossos inimigos:

O amigo é uma bênção.
O inimigo, entretanto, é também um auxílio, se nos dispomos a aproveitá-lo.
O companheiro enxerga os nossos acertos, estimulando-nos na construção do melhor de que sejamos capazes.
O adversário identifica os nossos erros, impelindo-nos a suprimir a parte menos desejável de nossa vida.
O amigo se rejubila conosco, diante de pequeninos trechos de tarefa executada.
O inimigo nos aponta a extensão da obra que nos compete realizar.
O companheiro nos dá força.
O adversário nos mede a resistência.
Quem nos estima, frequentemente categoriza nossos sonhos por serviços feitos, tão só para induzir-nos a trabalhar.
Quem nos hostiliza, porém, não nos nega valor, porquanto não nos ignora e sim nos combate, reconhecendo-nos a presença em ação.
— Emmanuel, no livro Passos da Vida, capítulo 13, por Francisco Candido Xavier.

Saibamos agradecer a quem nos corrige as falhas, guardando-nos o passo em caminho melhor.

Inimigos em nós

Jesus fala que é dentro de nós mesmos que será travada a guerra maior, nos traz a visão de que os maiores inimigos não estão no mundo lá fora, mas sim dentro de nós.

Quando a treva se desdobra em torno de nossos passos, não vale vociferar contra as sombras ou persegui-las inutilmente, bastará acender uma luz para que a estrada se descortine novamente a visão
— Emmanuel no livro Escrínio de luz, capítulo 39, por Francisco Candido Xavier.

Os opositores ocultos são conhecidos pelos mais diversos nomes como o orgulho, a maldade, a tristeza, a preguiça, o desespero, a ingratidão que perseveram conosco muitas das vezes.

Portanto, sejamos vigilantes para entender quando estes sentimentos estão acontecendo. Devemos parar e observar, ter paciência porque um dia vamos melhorar. Identifiquemos as nossas fraquezas mesmo que agora ainda não saibamos como resolvê-las, mas podemos pedir ajuda. Os espíritos amigos estão sempre prontos para ajudar, nós que por vezes não estamos na mesma sintonia.

Ouça a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.
** Imagem em destaque via pexels.com.

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