Em palestra doutrinária na Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Ilani Nunes nos trouxe sobre a Missão do homem inteligente na Terra, tema contido no capítulo VII do Evangelho segundo o Espiritismo.

Missão do homem inteligente na Terra

Esse tema encontra-se dentro do capítulo Bem-aventurados os pobres de espíritos. Deve se entender por “pobres de espírito” não os desprovidos de inteligência, e sim os humildes. Isto é, são aqueles que não se exibem à custa do que sabem, muito menos exaltam o seu saber. Na verdade, compreendem que tem muito o que aprender.

O item 13 do Evangelho segundo o Espiritismo, que intitulou esta palestra, aponta justamente nesse sentido: de ser humilde com sua inteligência.

Não vos orgulheis por aquilo que sabeis, porque esse saber tem limites bem estreitos, no mundo que habitais. Mesmo supondo que sejais um das sumidades desse globo, não tendes nenhuma razão para vos envaidecer.
— Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VII, item 13.

Mesmo o homem mais inteligente da Terra é limitado quanto às verdades da lei de Deus, que regem o Universo. E mesmo se fossemos Espíritos Puros, conhecedores dos “mistérios” do Universo, não haveria motivos para a vaidade. Deus criou tudo com um propósito. O mesmo se dá com nossa inteligência. Ela carrega consigo uma missão:

Se Deus, nos seus desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes desenvolver a vossa inteligência, foi por querer que a usásseis em benefício de todos.
Porque é uma missão que Ele vos dá, pondo em vossas mãos o instrumento com o qual podeis desenvolver, ao vosso redor, as inteligências retardatárias e conduzi-las a Deus.
— Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VII, item 13.

Esse instrumento, concedido por Deus, deve ser usado para a evolução intelectual e moral, nossa e dos nossos irmãos. Sempre lembrando que Deus é nosso Pai e Criador. Deus é a Inteligência Suprema e causa primária de todas as coisas. D’Ele provém tudo.

A natureza do instrumento não indica o uso que dele se deve fazer? A enxada que o jardineiro põe nas mãos do seu ajudante não indica que ele deve cavar?
E o que diríeis se o trabalhador, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu senhor? Diríeis que isso é horroroso, e que ele deve ser expulso.
Pois bem, não se passa o mesmo com aquele que se serve da sua inteligência para destruir, entre os seus irmãos, a ideia da Providência?
Não ergue contra o seu Senhor a enxada que lhe foi dada para preparar o terreno? Terá ele direito ao salário prometido, ou merece, pelo contrário, ser expulso do jardim? Pois o será, não o duvideis, e arrastará existências miseráveis e cheias de humilhação, até que se curve diante daquele a quem tudo deve.
— Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VII, item 13.

Dessa forma, como todo instrumento, depende do seu bom uso para atingir o objetivo no bem. 

A inteligência é rica em méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem empregada. Se todos os homens bem dotados se servissem dela segundo os desígnios de Deus, a tarefa dos Espíritos seria fácil, ao fazerem progredir a humanidade. Muitos, infelizmente, a transformaram em instrumento de orgulho e de perdição para si mesmos.
O homem abusa de sua inteligência, como de todas as suas faculdades, mas não lhe faltam lições, advertindo-o de que uma poderosa mão pode retirar-lhe o que ela mesma lhe deu. – Ferdinando, Espírito protetor. (Bordéus, 1862.)
— Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VII, item 13.

Animais e homens

Mas a inteligência é atributo apenas do homem? Uma dúvida muito recorrente, tratada na questão 592 de O Livro dos Espíritos:

Se, pelo que toca à inteligência, comparamos o homem e os animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse aspecto, notória superioridade sobre certos homens. Pode essa linha de demarcação ser estabelecida de modo preciso?

“A este respeito é completo o desacordo entre os vossos filósofos. Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto. […] Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em Deus.”
— O Livro dos Espíritos, questão 592.

O Espírito Miramez apresenta o seguinte comentário sobre a questão 592 do Livro dos Espíritos:

O homem verdadeiramente herda alguma coisa do animal na sua estrutura física, mas não está na mesma escala deste, por ter alcançado um aperfeiçoamento maior do que ele, a sua delicadeza, a palavra falada e outras inúmeras faculdades que a natureza lhe deu.

Há um conceito errado que diz que certos animais já foram homens. Isto seria a degradação, e o Espírito não regride. Como pode voltar de onde veio, em situações piores, por causa de certas faltas cometidas?

Se alguns homens descem abaixo do animal, usando mal a sua razão, não quer dizer que esses homens regrediram; eles têm livre arbítrio, e o animal não pensa como os homens, não têm raciocínio, estão envolvidos no instinto, que não os guia para essas paixões. Quando eles chegarem, pelo progresso, ao reino dos homens, certamente que irão fazer o mesmo, pelos processos que a razão os conduz sem ainda compreender a educação.

Não tenhas dúvidas: o homem é superior aos animais, mesmo descendo, na sua conduta, ao nível destes. Isso não importa, de uma hora para outra, como já tens observado, ele se eleva, limpando seus caminhos do erro e endireitando-os para a luz. A natureza lhe deu tudo para o progresso espiritual, e sempre acaba aproveitando alguma coisa para a sua libertação, sendo que, aos animais, poderemos dar todas as oportunidades, que eles não as podem aproveitar, devido a serem outras suas condições.[…]

Mas Deus sabe porquê, e no futuro, quando eles deixarem o reino onde se encontram em trabalho de maturação, no amanhã bem distante, quando ganharem de Deus a razão, entrarão na corrente do progresso como os homens, e passarão a ser visíveis as suas mutações, ganhando como esses homens o prêmio da liberdade e o gozo daquilo que podem descobrir para o seu bem-estar.
— Filosofia Espírita, volume XII.

Pedras

Segundo o dicionário, inteligência é a faculdade de conhecer, compreender e aprender. Mas também é a capacidade de compreender e resolver novos problemas e conflitos e de adaptar-se a novas situações.

Emmanuel nos faz refletir sobre o homem inteligente e a superação dos obstáculos no caminho:

As dificuldades de qualquer natureza são sempre pedras simbólicas, asfixiando-nos as melhores esperanças do dia, do ideal, do trabalho ou do destino, que recebemos na glória do tempo.
É necessário saber tratá-las com prudência, serenidade e sabedoria.
— Vida em vida, capítulo Pedras.

Os obstáculos são os mesmos, o que muda somos nós:

Há diversos modos de considerar os obstáculos, removendo-os ou aproveitando-os. O preguiçoso recebe os calhaus da luta e estende-se no caminho, sucumbido ao seu peso. É o espírito desanimado, indolente e enfermiço.
O desesperado, em se sentindo sob os granizos da sorte, confia-se à intemperança mental e atira-os ao viandante inocente ou à porta de companheiros inofensivos. É o espírito indisciplinado, renitente e impulsivo, que sabe apenas ferir o próximo ou denegri-lo com atitudes impensadas ou levianas.
O homem inteligente, todavia, recebe as pedras da experiência e, ainda mesmo sangrando as mãos ou o coração, recolhe-as, cuidadoso, valendo-se delas para a confecção de utilidades ou para a construção de edifícios consagrados ao agasalho, ao reconforto ou à benemerência, em favor dele mesmo, e de quantos ao acompanham na marcha evolutiva.
Ninguém passará ileso nos caminhos do mundo.
As pedras da incompreensão e da dor, no ambiente comum da existência carnal, chovem sobre todos.
Do entendimento e da conduta de cada um dependerão a felicidade ou o infortúnio, na laboriosa romagem terrestre.
— Vida em vida, capítulo Pedras.

Ser pequeno para ser grande

Com muita propriedade, Emmanuel nos ajuda a compreender melhor a extensão da missão do homem inteligente na Terra:

Em verdade, o homem inteligente não é aquele que apenas calcula, mas sim o que transfunde o próprio raciocínio em emoção para compreender a vida e sublimá-la. Podendo senhorear as riquezas do mundo, abstém-se do excesso para viver com simplicidade, sem desrespeitar as necessidades alheias.

Guardando o conhecimento superior, não se encastela no orgulho, mas aproxima-se do ignorante para auxiliá-lo a instruir-se. Dispondo de meios para fazer com que o próximo se lhe escravize ao interesse, trabalha espontaneamente pelo prazer de servir.

E, entesourando virtudes inatacáveis, não se furta à convivência com as vítimas do mal, agindo, sem escárnio ou condenação, para libertá-las do vício. O homem inteligente, segundo o padrão de Jesus, é aquele que, sendo grande, sabe apequenar-se para ajudar aos que caminham em subnível, consagrando-se ao bem dos outros, para que os outros lhe partilhem a ascensão para Deus.
Livro Religião dos Espíritos, capítulo 36, O homem inteligente.

Instrumento do bem

Como podemos observar a missão do homem inteligente na Terra, é a oportunidade, que recebemos de Nosso Pai Celestial para o nosso aperfeiçoamento.

O Evangelho de Jesus é a bússola para fortalecer em nós a harmonia, a humildade e o amor ao próximo. Nos guiará para o conhecimento de nós mesmos, no desenvolvimento das nossas habilidades para o bem. E a inteligência nos dará a oportunidade de progredir com sabedoria, até que alcançaremos a perfeição.

Fechamos a nossa reflexão de hoje o texto de Amaral Ornelas:

Caminheiro da Terra, escuta, dia a dia,
A mensagem de Amor em que reconfortas.
Avança sobre a dor da esperanças mortas,
Na conquista do Bem, eleva-te e porfia!

Supera as tentações da treva e da agonia,
Louva o dever e a fé com que a ti mesmo exortas.
E alcançarás, mais tarde, rutilantes portas
Dos templos imortais da Divina Alegria.

Um dia, voltarás ao país de onde vieste,
Filho tornado à paz do Santo Lar Celeste,
Finda a rude aflição da carne transitória…

Segue, pois, com Jesus, embora enfermo e aflito.
E ascenderás, cantando, à glória do Infinito,
Aureolado na Luz da suprema vitória.

Amaral Ornellas
— Relicário de Luz, capítulo 78, Ao viajor da fé.

Que tenhamos muita fé em Deus, confiança em nós e dentro do padrão de inteligência de cada um de nós. Que possamos ter a humildade para perceber que o Senhor da vida nos deu a inteligência para que pudessémos ajudar nossos irmãos na caminhada em direção ao seu evangelho de AMOR!

Muita paz a todos!

* Colaborou para esta publicação: Ilani Nunes.
** Imagem em destaque: pexels.com.

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